terça-feira, 28 de julho de 2009

Entrevista publicada em 25/07 na Radio Jovem Pan Online - Estudo raro é apresentado em livro

João Alves das Neves apresenta obra rara em "Fernando Pessoa, Salazar e o Estado Novo".

A editora Fabricando Idéias está lançando o livro "Fernando Pessoa, Salazar e o Estado Novo", de autoria do crítico português e professor universitário João Alves das Neves, que vive a bastante tempo aqui no Brasil. Para saber mais sobre o livro, José Luís Menegati conversa com o próprio autor João Alves das Neves.
Ouça a entrevista:

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Livros & Autores Livros & Autores: “O PLURAL E O SINGULAR” DE MONTEZUMA DE CARVALHO

O escritor Francisco Correia das Neves publicou o livro que o incansável cultor das Letras Portuguesas, Brasileiras e Hispânicas merecia, porque bem poucos fizeram por essas Literaturas o muito que por elas realizou Joaquim de Montezuma de Carvalho. E até nós, da Beira-Serra, dele recebemos lições que revelam, de um lado, o conhecimento profundo dos valores culturais portugueses, brasileiros e dos outros países de idioma comum, assim como da Espanha e da América Latina.

Intelectual de alta linhagem, honrou singularmente a obra de seu Pai, Joaquim de Carvalho, professor e escritor, ampliando-a até por outros caminhos, conforme testemunha a notabilíssima série de estudos que coordenou para os quatro volumes do Panorama das Literaturas das Américas (1958-1965), graças à colaboração de grandes escritores, incluindo vários “Prêmios Nobel”, o que bastaria para documentar o prestígio de que gozou no mundo literário do século XX.
Aliás, desde bem cedo soube conciliar a sua atividade no campo do Direito com as Letras, participando da divulgação da obra do Poeta Teixeira de Pascoais, através do Epistolário Ibérico: Cartas de Pascoais a Unamuno” (1957) e de outros trabalhos notáveis, como foi o que consagrou à vida e obra de António Sérgio (1979) e à Vida de Bento de Espinoza (2001), para referir apenas alguns dos principais, pois que Montezuma passou toda a vida a estudar e ensinar, nos seus livros e nas revistas e nos jornais onde colaborou.

De forma explícita, a atividade do escritor está bem documentada no livro O Plural do Singutar / em homenagem a Joaquim de Montezuma de Carvalho (2008), que aparece catalogado como “separata” do jornal “A Comarca de Arganil”, onde foram inicialmente divulgados os artigos ora reunidos em volume pelo escritor Francisco Correia das Neves, que nos dá valiosas informações sobre Montezuma (nascido em Coimbra no dia 21 de Novembro de 1928 e falecido una cidade de Lisboa em 6 de Maio de 2008). Conheceu Montezuma numerosos países latino-americanos e andou um pouco por toda a parte, mas foi em Angola e em Moçambique que viveu mais tempo, Foi um escritor múltiplo, dividiu-se por todos os lados, de Portugal ao Brasil, da Espanha à América Latina.

Salienta Francisco Correia das Neves que “Montezuma de Carvalho, plural geneticamente, foi-o também socialmente e no pensamento. Era profundamente entendido em qualquer ramo literário.A sua cultura era enormemente diversificada. Tudo analisava em profundidade e por todos os ângulos. Trabalhou imenso, escreveu sempre, contatou com variada gente e de muitas bandas, por várias andou, lia tudo , recolhia e anotava, congregou e reuniu pessoas, participou em júris e congressos, dedicou-se à família e ao trabalho profissional, a sua afeição não tinha direções, era de todos, foi tolerante e sensível às idéias diversas, menos às sujas e malignas”.

E era generoso e franco. Pesquisador incansável e correto, tinha a coragem de reconhecer o seu erro ao descobrir o documento que o induzira à falha involuntária - o que era raro, pois Joaquim de Montezuma de Carvalho não opinava de cor. Por tudo isso, tem inteira razão o biógrafo Francisco Correia das Neves quando invoca a grandeza do “nosso” Montezuma: “Foste Plural num só, no Singular, mas singular também por seres invulgar e notável”.

terça-feira, 21 de julho de 2009

LANÇAMENTO !!! Pessoa, Salazar e o Estado Novo



O novo volume poderá ser adquirido na Alpharrábio Editora e Livraria Ltdª:

Rua Eduardo Monteiro, 151–CEP 09041-300 – Santo André/SP

ou direto com o autor

Custo do livro: R$19,90

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Carta da Diáspora: A COMUNICAÇÃO SOCIAL NA PROVÍNCIA E NA EMIGRAÇÃO

A crise econômica mundial tem uma danosa repercussão nos meios da comunicação social, quer na chamada “grande Imprensa”, quer nos jornais, emissoras de rádio e televisão da Província e da Emigração.
No que se refere à Imprensa Regional e à de Emigração, sempre tão próximas, assinalaremos que os governos de ontem e de hoje nunca respeitaram nem uma nem a outra. Dizêmo-lo sem partidarismo político (porque não temos nenhum), mas com o realismo que nos assiste. Ninguém pode aceitar o magérrimo apoio ao porte pago e muito menos as fabulosas verbas atribuídas às emissões radiofônicas e televisas para as ex-colónias portuguesas. Não somos colonialistas. E vivemos no país que se tornou independente em 1822. Porém, teremos de ponderar que a informação prestada pela antiga Metrópole aos luso-brasileiros deve pesar muitíssimo menos que a proporcionada aos países emancipados após 1974... (Ou será isto mais uma parcela da “descolonização exemplar”, que obrigou mais de meio milhão de portugueses a “reemigrar” de Angola e de Moçambique e regressar à casa paterna?)

Repetimos o que disse o Poeta da Mensagem numa das suas autobiografias: “Não sou reaccionário”, mas isso não nos impedirá de escrever o que pensamos – ou a censura ditatorial continua sob novas formas? E é hora de proclamar que são numerosos os que fingem ser democratas quando, na verdade, passaram a ser, agora, neo-fascistas, porque acusam de reaccionarismo os que deles discordam!
Sim, os Provincianos e os Emigrados já estão cansados dos “neo-democratas” que no passado defenderam a censura, graças à qual comeram no prato onde hoje cospem...Nós respeitamos as tradições lusíadas provincianistas e da gente da Diáspora. Na voz de Camões, Portugal “deu novos mundos ao Mundo”, e Fernando Pessoa completou: “Minha Pátria é a Língua Portuguesa”.
Há políticos espertos, porém ignorantes – ainda não sabem que mais de um terço dos portugueses emigraram e os seus direitos eleitorais estão reduzidos a... 4 deputados! E que há políticos sem vergonha que tentaram suprimir o voto por correspondência dos emigrantes, adoptado pelos Estados Unidos França e outros países democráticos. Aliás, a informação que chega a esse terço de portugueses expatriados é insuficiente, assim como a da programação da RDP e da RTPI – e quantos serão aqueles que têm condições de acompanhar os noticiários?
Irmã gêmea da Imprensa Regional, a Imprensa dos Emigrantes serve os 3 ou 4 milhões da Diáspora, que não podem ler a “grande Imprensa” (que já foi maior) e que só em parte acompanha a RDP ou a RTPI? Ou haverá pesquisas secretas de opinião publica sobre radiouvintes ou telespectadores?
Gostaríamos de ter uma explicação do Provedor da RTP, que tão diligentemente costuma esclarecer as dúvidas dos telespectadores.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Letras Brasileiras: PAULO BOMFIM, “PRÍNCIFE DOS POETAS BRASILEIROS”, FIEL ÁS RAÍZES DO PASSADO, DESVENDA O FUTURO


É a partir de uma frase de Paulo Bomfim que buscamos as raízes da sua poesia e das suas crônicas: “Um país que procura renegar seu passado, perde pé no presente e deixa acontecer o futuro.”

Com estas palavras, o poeta de “António Triste”, livro que marcou a sua estréia literária, em 1947, percorreu um longo caminho, ilustrado por cerca de três dezenas de obras, desde a poesia à crônica – os seus gêneros mais constantes. Na verdade, este discípulo dos clássicos é, no fundo, um modernista porque consegue ser atual ainda que seja um sonetista de alta craveira. E a construção dos seus textos em verso e prosa é tão contemporânea quanto o foram os pioneiros do futurismo e de outras manifestações dos “ismos”, nem sempre realizadas com êxito, apesar das boas intenções de certos contemporâneos.

Os poetas Guilherme de Almeida, Mário de Andrade e Oswald de Andrade foram com certeza figuras dominantes da “Semana de Arte”, em 1922, embora não tenham sido os únicos e deixaram discípulos que, em circunstâncias diversas, se aproximaram dos primeiros – e um deles foi Paulo Bomfim, que tem sabido conciliar o espírito modernista, sem renegar um classicismo apurado, graças à sua insistente e, renovada arte poética.

Indiscutivelmente, Paulo Bomfim tem percorrido uma longa e fértil caminhada, desde 1947, quer no verso, quer na crônica, reinventando uma aliança feliz entre dois gêneros literários que por vezes se completam. E aí está o segredo dos grandes criadores que nunca se repetem. Quem diz que o soneto morreu? Quem faz a ode camoniana da era contemporânea? Quem é que revive o passado com os olhos de hoje? E para comprovar que a poesia é eterna bastará a releitura de Transfiguração ou do Navegante! Onde é que está o mistério ou a sofisticação de se amar ao mesmo tempo o trovador D. Dinis e o modernista Mário de Andrade? Ou de preferir simultaneamente Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Sofia de Melo Breyner e Manuel Bandeira?
Ao percorrermos a obra de Paulo Bomfim encontramos uma fértil colheita poética, que se alarga do António Triste, que nos sugere o António do Só, tão influente entre poetas portugueses e brasileiros, embora admitindo que o jovem brasileiro é bem diferente do simbolista luso. Aliás, Bomfim não é copioso, mas constante na sua busca, desde o princípio ao belo Súdito da Noite. A poesia é algo sério para quem acata os mestres, mas não é subordinado a eles. Lírico, sim, mas a seu modo. Modernista, sim, mas não repetitivo, como são vários piadistas de frases apropriadas de outros. Um poeta tem de ser pessoal. Leu com certeza os Cancioneiros, os românticos, os simbolistas e outros modistas, mas é essencial que seja igual a si-próprio:


”Onde andará minha amada
Neste percurso triste,
Nestas noites sem luar?”

O artista tem de ser autenticamente criador, o que não significa distância dos grandes movimentos estéticos que marcaram a evolução da literatura através dos séculos. Ninguém melhor do que Paulo Bomfim sabe absorver a lição de ontem, pois em certas circunstâncias é capaz de a reatualizar, mas em momento algum deixa de ser criador. Recrear também é criar. E assim faz com o soneto XXV do livro em que areja a poesia da Transfiguração:


Dobremos o nosso cabo das tormentas
Seguindo a solidão das caravelas;
(...) El-Rei, nosso destino, inda nos guia
Para além, muito além de Calicute;
(...) Partamos na manhã ensolarada
dos Restelos que habitam nossos peitos;
(...) Andamos pelo tempo que é perdido,
Buscando nosso mar desconhecido!”

Há uma busca permanente nos poemas de Bomfim e por isso os seus versos são ora realistas, ora surreais, como neste soneto dos Poemas Esparsos:

“Deito-me em ti com ramos e folhagem
E pássaros e orquídeas de loucura;
Do musgo do meu gesto nasce a imagem
Que atiro em teus caminhos de procura.”

Do Relógio do Sol à Cantiga do Desencontro, atravessando o Poema do Silêncio e os 7 Poemas Amargos, Sinfonia Branca e o Armorial, dedicado aos seus antepassados “que ainda não regressaram do sertão”, decorridos 3 séculos, é o Brasil, e sobretudo São Paulo revivescendo as origens:

“Primeiro foi o mar, selva noturna,
com solidões de estrela na manhã”
É a Poesia vestida de História:
A selva é mar com ilhas fugidias
E gritos emplumados na tocaia,”

Monções, florestas, cansaços e jornadas, “Parnaíbas correndo de amor que não regressam”. Há “entradas pelo chão do nunca mais”, adivinham-se “tapuias pressentidas nas ciladas”, há capelas coloniais e astrolábios – o laço invisível que liga Bandeirantes antigos e contemporâneos. É o Pais, a Região e a cidade cantada por Bomfim, perseguindo a trilha de Guilherme de Almeida:

“Por certo hei de cantar esquecimento
Manhãs paulistas onde sou raízes...

Diz o ensaísta Nogueira Moutinho, um dos mais atentos analistas da obra de Paulo Bomfim: “É no interstício entre o mundo inefável e o mundo que o poeta se insere, e, graças à alquimia do verbo, opera a transferência de uma realidade de silêncio e a uma realidade expressiva – e o poeta conduz-nos a uma atmosfera de magia que só descobrimos com os seus versos.

Outro excelente ensaísta, Gilberto de Mello Kujawski, retoma o tema que citamos – o do renovador do soneto que os modernistas apressados não conseguem sepultar, observando que “onde Paulo Bomfim provou pela primeira vez, e para sempre, sua força de sonetista absoluto foi na série de sonetos que compõe o Armorial. Esta transposição do largo mar dos navegadores para a cerrada selva dos bandeirantes, e esta transfusão da feira ancestral no sangue nutriente da memória”:

“A selva é mar de todos os naufrágios.
Inutilmente somos a presença
Daqueles que partiram sem voltar.”

Com este e tantos outros poemas da “feira ancestral”, o autor do Poema da Descoberta reencontra a fonte e o alicerce da eternidade de “Os Lusíadas” e do renascimento que Fernando Pessoa imortalizou na Mensagem do Mar Portuguez”:

“Valeu a pena: Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.”

Tarde ou cedo, os poetas sempre se reencontram.

E tudo isto é tão verdadeiro que no poema em prosa intitulado Caminhos do Quinto Império, Paulo Bomfim sintetiza a sua brasilidade, salientando que “o Brasil foi descoberto pela Língua Portuguesa” - proclamação que envolve duas Pátrias: “Do alto dos púlpitos, Padre Antonio Vieira prega suas cruzadas com a espada do idioma português”. O “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, na condição de vero Poeta Lusíada está, em prosa e verso, no belo provérbio de Fernando Pessoa: “A nossa Pátria é a Língua Portuguesa”.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Círculo Fernando Pessoa: APRESENTAÇÃO DE UM LIVRO SOBRE O PENSAMENTO POLÍTICO DE FERNANDO PESSOA

Com o título de Fernando Pessoa, Salazar e o Estado Novo, será apresentado no próximo dia 11/7/2009 aos amigos e convidados do Centro de Estudos Fernando Pessoa, fundado em 1987 na cidade de São Paulo, o livro organizado, prefaciado e anotado pelo escritor João Alves das Neves.

Trata-se da primeira reunião de 5 poesias e 14 textos em prosa do autor da Mensagem e criador dos heterônimos. O volume foi editado pela “Fabricando Idéias” (de Santo André) e será reeditado ainda este ano pela “Via Occidentalis Editora” de Lisboa. O lançamento em São Paulo é do Círculo Fernando Pessoa, instituído para divulgar os estudos luso-brasileiros e dos outros países de idioma português através do livro, da revista “Comunidades de Língua Portuguesa” e do “site www.pessoano.com.br e do blog www.joaoalvesdasneves.blogspot.com.

O Centro de Estudos Fernando Pessoa já promoveu 13 Encontros Culturais dos Países de Língua Portuguesa (9 no Brasil e 4 em Portugal) e deve publicar nas próximas semanas mais 2 livros: Decifrando a Mensagem, de Fernando Pessoa, da autoria do escritor Carlos Francisco Moura, e os Índices Gerais, de Autores e de Temas dos 22 volumes da revista “Comunidades de Língua Portuguesa”.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

0S 150 AN0S DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA DE SÃO PAULO - Texto Ampliado

Fundada por 168 portugueses, a Real e Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência é hoje o maior centro hospitalar privado do Brasil - mantém os hospitais de São Joaquim, fundado em 1876, e o de São José, inaugurado em 2008.

A instituição atende em mais de 50 áreas médicas, tendo criado um Centro de Pesquisa com 37 núcleos nas áreas de cardiologia, urologia, clínica médica, pneumologia, infectologia, nefrologia, vascular, hepatologia e oncologia. Instalou um dos maiores bancos de sangue do país (coletou 30 mil bolsas de sangue em 2008). Faz diariamente cerca de 40 cirurgias cardíacas. E tem um ícone da modernidade – o hospital São José com 111 leitos (70 para internações), 7 salas de cirurgia, 14 UTIs e 6 semi-intensivas, MED Imagem e um Centro de Diagnósticos - tudo isto foi realizado sem subsídios... O reconhecimento pelo alto nível médico-hospitalar explica a aprovação pelo Ministério da Educação e Cultura, em 1988, dos cursos regulares de Pós-Graduação (Latu Senso): hoje, são 8 cursos, que já formaram 500 profissionais. Entretanto, o Programa de Residência Medica já diplomou 73 especialistas (de 2001 a 2008) nos domínios da anestesiologia, radiologia, diagnóstico por imagem e otorrinolaringologia, podendo afirmar-se que a “Beneficência”, não sendo uma escola, é um verdadeiro “Hospital de Ensino”.

Num estudo que publicou sobre “O papel da Beneficência Portuguesa e o problema da saúde no Brasil” salientou o engenheiro Antônio Ermírio de Moraes (Presidente desde 1971 até 2008) que a entidade continua “a tradição inaugurada com o significativo amparo que prestou às populações de Santos e Campinas, quando da epidemia da febre amarela de 1889, ocasião em que avultou a figura de Abílio Soares”. porém, a melhor homenagem que o Dr. António merece do Brasil está justificada nas suas próprias palavras: “Tenho orgulho em sermos um dos poucos hospitais que atendem a todas as classes sociais, incluindo o atendimento a 60% de pacientes pelo Sistema Único de Saúde. Anualmente são mais de 300 mil pessoas beneficiadas com o nosso trabalho que, ao longo de décadas, vem contribuindo para uma vida mais saudável de milhões de paulistanos e brasileiros.”

Falam também por ele os números bem expressivos: nos 6 edifícios da “Beneficência” (área construída de 143 mil metros quadrados), trabalham 6.000 pessoas – entre 1.500 especialistas do corpo clínico, que dispõe de 64 salas cirúrgicas. São realizadas 20 mil intervenções (incluindo 8 mil cardíacas) e 3.589 transplantes (em 7 áreas). Quanto ao número exato de leitos disponíveis é de 1.920 (com 223 de UTI).

Tamanha ação explica os 4 milhões de exames, em 2008, nos mais diversos setores. E testemunha igualmente as 30 mil cirurgias por ano. Professores de Medicina dão o seu contributo à entidade, que, graças à colaboração dos médicos e de profissionais (técnicos e auxiliares de enfermagem), cumprem a tarefa ambicionada pelos 168 portugueses que há 150 anos lançaram as bases de uma associação que ampliou o projeto das Santas Casas de Misericórdia, iniciado pela Rainha D. Leonor, em 1498 (são agora quase 400 em Portugal e 500 no Brasil): o sonho ampliou-se com as “Beneficências” e os seus hospitais brasileiros de espírito lusíada. Como referiu o Presidente Antônio Ermírio de Moraes “a tradição” não morreu.
Decorridos 150 anos, a “Beneficência Portuguesa” cresceu com a cidade de São Paulo. A instituição ultrapassou a fronteira médico-hospitalar, tornou-se patrimônio cultural do Brasil, conforme disse o historiador Pedro Calmon, na conferência que proferiu (9-9-1961), no Salão Nobre “Padre Manuel da Nóbrega”: “O que observamos no salão fulgurante da Beneficência Portuguesa é a ilustração dos grandes momentos da história comum, que nos dá a sensação estética de estarmos, não no interior de um imenso estabelecimento hospitalar, mas dentro de um livro de horas, ilustrado e velho livro iluminado com as grandes cenas e os personagens insignes da nossa tradição, - convivendo com as sombras veneráveis dos homens que fizeram o Brasil”. Na fachada principal, há mais 4 belíssimos vitrais e outros 6 iluminam a moderna capela da Beneficência Lusíada.
Lembramos as palavras do historiador brasileiro para homenagear o Dr. Antônio Ermírio de Moraes, que tão bem conhece os 33 vitrais do Salão Nobre da “Beneficência”, documentação exemplar da História de Portugal e do Brasil. O atual Presidente da Diretoria é o Dr. Rubens Ermírio de Moraes.

Está por documentar a participação dos emigrantes portugueses na construção do Brasil, sob variados aspectos, e certamente que um dos mais importantes terá sido o da assistência médico-hospitalar em todo o País. Essa atividade foi desenvolvida principalmente pelas Santas Casas de Misericórdia e depois ampliada por cerca de três dezenas de hospitais e outras instituições luso-brasileiras que prestam serviços médicos no Brasil.
A missão cumprida pela Real e Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência tem sido do maior relevo na área da acompanhamento médico em São Paulo, no decurso dos últimos 150 anos, graças à união de esforços dos emigrados lusos e de milhares de brasileiros natos que assimilaram e realizaram o desafio lançado pela Rainha Dona Leonor, no ano longínquo de 1498. Aliás, a tarefa alargou-se por todos os países de idioma comum, com relevo muito especial para o Brasil.

(*) Jornalista, escritor e professor de comunicação social, o autor deste artigo foi diretor da Real e Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência de São Paulo durante mais de 30 anos e é membro do Conselho Consultivo da entidade luso-paulista.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Peço a palavra: FIGURAS E PAISAGENS DA BEIRA-SERRA NA OBRA DO PINTOR MONSENHOR A. NUNES PEREIRA


Há uma idéia feita de que a Beira-Serra é pobre, economicamente, o que é em parte verdade, embora tenhamos de abrir os olhos para várias grandes empresas. E remos uma agro-pecuária pobre, situação que se agravou, nos últimos, em virtude da migração e da emigração, porque os governantes de ontem e de hoje pouco fizeram para fixar os jovens. E muito pior estaríamos se não tivéssemos o movimento regionalista que, no último meio século, foi o motor básico de numerosas obras públicas regionais.

Não obstante as dificuldades apontadas, a Beira-Serra dispõe de um valiosíssimo patrimônio histórico, artístico e cultural, o que nos é garantido pelas obras literárias de que é honra e padrão o poeta Brás Garcia Mascarenhas, com o seu Viriato Trágico, uma das mais significativas no âmbito da poesia épica portuguesa. É claro que outras figuras exponenciais das Artes e Letras poderiam ser enumeradas, com relevo não só na Literatura mas também no Teatro, na Música, nas Ciências e no Ensino, na Pintura, etc.

O que nos tem faltado é uma divulgação dos nossos artistas nos meios culturais -os municípios eximem-se dos seus deveres comunitários e nós, simples mortais, não sabemos defender o acesso a uma vida intelectual que seja correspondente às nossas mais justas aspirações – e anotemos o que tem acontecido, por exemplo, no domínio das artes plásticas. E abrimos a série: quem é que, entre nós, conhece a obra de um Guilherme Filipe, Pintor e dinamizador cultural nascido em Fajão? Por que não foram até hoje reunidos em volume os centenares de artigos sobre temas regionais do Pe. A. Nogueira Gonçalves, o grande historiador da Arte Portuguesa? Quem e quando será feito o estudo imprescindível das obras literárias dos goienses D. Luís da Silveira, de António Francisco Barata e de Francisco Barata Dias? Quem é que se propõe republicar a obra de Sarah Beirão, que tão popular foi em vida e ninguém mais recorda? Quando é que se faz a reedição crítica do admirável poeta e cronista que foi Vasco de Campos? E os estudos históricos dispersos de Augusto Cid e as reedições dos ensaios históricos e literários de António Gonçalves Matoso e de Mário Mathias?

A lista dos esquecidos iria longe se não fosse citada de memória, e devemos observar que não pretendemos transformar a nossa Terra numa “academia de artes e letras”, porque há muita gente que por suas vidas e obras merece ser evocada, desde o empresário até o modesto trabalhador. Aliás, esta conversa principia com menção a um dos maiores artistas e intelectuais da Beira-Serra – o Padre Augusto Nunes Pereira, que foi poeta, historiador, folclorista, jornalista e fez outras coisas notáveis, com relevo ímpar no âmbito das Artes Plásticas.

Foi pensando neste sacerdote que andou por Montemor-o-Velho, Coja, Coimbra e pelos montes e vales da nossa Beira-Serra, desenhando, gravando e pintando figuras e paisagens. Não fomos os únicos que pensamos no extraordinário artista plástico que ele foi. Já o lembramos (nós e António Lopes Machado) na edição Nº. 13/2001 da revista cultural Arganilia, cujo percurso editorial será renovado em breve com o número consagrado a Regina Anacleto – Vida e Obra. Pois bem a justa missão que dedicamos a Mons. A. Nunes Pereira há muito tempo que se esgotou, como esgotadas estão quase todas as outras 23 – prova evidente de que há leitores, malgrado as dificuldades administrativas que nos asfixiam.

No longo diálogo à distância que temos mantido com Nuno Mata, concluímos que ambos colecionávamos livros, recortes e outros documentos sobre a obra de Augusto Nunes Pereira. Vamos fazer em breve o projeto do Álbum das Terras da Beira-Serra (Figuras e Paisagens), título ainda não definido, a partir dos textos de Monsenhor A. Nunes Pereira, com destaque para os seus livros Coja, Princeza do Alva, Panorama Artístico das Beiras, Nossa Senhora das Preces (com o Pe. Brito), Contos de Fajão, somando o apoio dos Cantares da Beira, de Maria da Conceição Oliveira, a quem devemos também o excelente Monsenhor Nunes Pereira (com José Maria Pimentel). E aguardamos as sugestões que outros nos possa oferecer.

O projeto está em marcha: agora, esperamos realizá-lo.