quinta-feira, 29 de abril de 2010

O REGIONALISMO ANALISADO PELA SOCIÓLOGA MARIA BEATRIZ ROCHA-TRINDADE

Chegou “o estudo que faltava”, dissemos no prefácio de A Serra e a Cidade, mas os municípios de Arganil, Góis e Pampilhosa da Serra ainda não o leram com a devida atenção. E assim pode talvez explicar-se que só tardiamente costumamos reconhecer o valor intelectual e artístico de certas obras realizadas pelos autores da Beira-Serra.


Assim foi com Tomás Garcia Mascarenhas, que permaneceu inédito por largos anos embora estimado pelos seus conterrâneos avoenses: deixou-nos em 1656, mas o Viriato Trágico só foi editado em 1699 por devoção de Bento Madeyra de Castro, seu parente longínquo. Os anos tornaram esquecidos o autor e o poema, até que um e o outro foram redescobertos em 1846 por Albino d’Abranches Freire de Figueiredo, que por sua conta tou o livro, sob a forma tipografada à moderna. E sobreveio outro largo sono, até que somente em 1996 voltou o poema, agora fac-similado, com apresentação do ensaísta José V. de Pina Martins.


Não obstante, os estudos crítico-biográficos de Simões Dias, Visconde de Sanches de Frias, Teófilo Braga, António de Vasconcelos, Fidelino de Figueiredo (que o considerou entre os nossos maiores épicos, na linha de Camões) e de outros estudiosos obra de Brás Garcia Mascarenhas continua a ser ignorada pela maioria dos historiadores literários) e este desconhecimento omite o poeta do Alva das nossas antologias de divulgação e ensaio. A burrice não sabe que a Literatura Portuguesa se projecta além de Lisboa, Porto e Coimbra.


Com outros escritores válidos acontece à mesma coisa e os autores da Beira vivem isolados na Serra. E pior estariam se o silêncio não fosse quebrado por intelectuais da estirpe de Maria Beatriz Rocha-Trindade, que encontrou uma razão cultural para analisar o Movimento Regionalista, que rompeu a partir da década de 20 do século passado com o atraso material e social população da nossa Terra: “Como acontece na gênese de qualquer movimento de cariz associativo, tal como o que veio a ser caracterizado no Regionalismo das Gentes da Serra, a formação de uma estrutura sólida, regular e cristalina inicia-se em geral, com encontros recorrentes de ocorrência mais fluida e irregular que, por várias vezes repetido, se tornaram habituais”.


Em conclusão, declara a socióloga que “os Regionalistas da Serra construíram e deram à luz uma forma modelar de iniciativa de sociedade civil, sem por isso menosprezar o poder do Estado: não são subditos ou servos - são parceiros de direito pleno.”


Ora, chegamos ao fim: os Municípios não podem ignorar estudos que, como o da investigadora, ensaísta e professora Maria Beatriz Rocha-Trindade dignificam o Movimento Regionalista que há perto de um século, com base nos arganilenses, goienses e pampilhosenses luta pela valorização material e cultural da Beira-Serra.


(*) O escritor João Alves das Neves retoma a sua colaboração habitual, que teve quer ser suspensa por alguns meses, por motivo de saúde.

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