quarta-feira, 11 de maio de 2011

Artigo: A. NEVES E SOUSA, O PINTOR E POETA NO EXÍLIO

Foram milhares os portugueses que se refugiaram no Brasil, no decorrer dos séculos, antes e depois da independência, em 1822, entre os quais pintor e poeta A. Neves e Sousa que ainda recentemente foi por isso recordado nas páginas do Jornal de Arganil, região de que era oriundo, embora nascido em Matosinhos e criado em Angola, onde se tornou pintor e poeta. Não obstante, foi cidadão do mundo, pois andou expondo a sua obra pictural através do mundo, com relevo para os países de idioma português.



Nasceu em 25 de Janeiro de 1921 e morreu em São Salvador da Bahia de Todos os Santos (Brasil), onde viveu (exilado) os últimos anos da sua vida. Vários dos grandes episódios da sua carreira foram lembrados pelo Prof. Eng. J. E. Mendes foram citados no referido artigo do semanário, sobretudo nas ligações com a vila de Coja, onde terá pintado pessoas e paisagens, algumas das quais estão hoje com o Engº João de Oliveira e provavelmente com outras famílias da Beira Serra. Daí, a pergunta: não seria possível reproduzi-las no formato de postais? É que são raras as reproduções das obras de grandes artistas plásticos sobre figuras, montes e vales, rios e ribeiras ou igrejas e capelas com imagens sacras que valeria a pena facilitar o acesso e a popularização de pinturas, desenhos e outras ilustrações dispersas por colecções privadas ou guardadas nos belos templos das três Beiras. Ninguém que conheça o catálogo da exposição de Arte Sacra organizada em 1991 pelo Prof. Dr. João de Castro Nunes perde o seu tempo. E o mesmo se dirá das belíssimas esculturas das igrejas de Góis e de Oliveira do Hospital. Há obras de arte muito valiosas espalhadas pelos municípios da Beira Serra, conforme testemunham os estudos do Padre António Nogueira Gonçalves e Regina Anacleto. Ainda não sabemos tudo da igreja e dos mosteiros de Lorvão e de Folques. Há os óleos de Guilherme Filipe em Fajão e noutros lugares. E com Nuno Mata apresentaremos muito em breve o Álbum de Monsenhor A. Nunes Pereira, com meia centena de gentes e paisagens beirãs, resgatadas dos jornais e de outras fontes.



Começamos a falar do Poeta e Pintor oriundo Beira Serra considerando que ele foi um dos milhares de portugueses contemporâneo que acharam no Brasil o seu país de exílio (admite-se que mais de 200 mil portugueses, angolanos e moçambicanos se refugiaram no território brasileiro), perseguidos pelos vitoriosos do “25 de Abril” – e muitos deles regressaram a Portugal, embora não deva esquecer-se que milhares de compatriotas escaparam do jugo fascista durante a longa noite da opressão salazarista. O pintor Albano Neves e Sousa foi uma das vítimas do autoritarismo “moscovita” que sucedeu ao “santa combadense”.



Dirão agora os acomodados que estamos exagerando e a estes respondemos com as palavras do artista exilado Albano Neves e Sousa, no pórtico do seu livro de poesia, publicado em 1991: “As coisas que eu não conseguia transmitir pintando, eu as transformava em poesia e, a terra e eu, éramos uma só idéia. – Fazendo um retrospecto acho que cantei a África de todas as maneiras que sabia e algumas que não sabia...- Quando, por circuntâncias alheias à minha vontade, me vi separado dela, procurei um clima parecido para cultivar a minha saudade.- Então, Angola passou a ser uma coisa íntima e secreta como uma doença. – E, como já não vivo nela, afinal vive ela em mim!”.

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