Um dos mais belos Meninos Jesus de Natal é, para o meu gosto e para o meu coração, o do Senhor da Ladeira, que fica no Mont’Alto de Arganil. Porém, há muitos outros que estão em inúmeros livros, jornais ou revistas que consideram os Meninos Jesus revividos na quadra de Natal.
Na verdade, o Pai Natal importado dos países do Norte europeu funcionam cada vez mais como marcas registadas do comércio (não que sejamos contrários às vendas, pois entendemos que os lucros comerciais devem ser aceitáveis quando razoáveis e resultam de um investimento correcto). Aliais, a especulação financeira foi condenada por Jesus. Quer dizer, a história é diferente da que pretendemos contar – o Menino Jesus de todos os Natais.
Há um Menino Jesus da Cartolinha que também é constantemente reproduzido: já o vimos na Sé Catedral de Miranda do Douro e, por mais simpático já é grandão, se o compararmos ao do Senhor da Ladeira, no Mont’Alto, um verdadeiro amor de Jesus. E recordo igualmente o Menino conhecido por “O Capitãozinho”, explicado pelo Pe. J. Quelhas Bigotte, na excelente Monografia da Vila e Concelho de Seia (História e Etnografia, 2ª. edição).
Diz-nos o Pe. Quelhas Bigotte que o popular “Capitãozinho” apareceu no convento de Vinhó, onde a Sóror Baptista do Céu Custódio (a “Tia Baptista”) “imaginou o Menino Jesus vestido com trajes de maior gala e, como um dia visse um ofical general, concebeu logo a i´deia de vestir o seu Menino Jesus com a farda de Capitão dos exércitos”. E logo o Povo começou a cantar:
“Lá numa encosta cimeira
Da serra mais altaneira
Das armas de Portugal,
Mora, vizinho dos céus.
Um Jesus,Menino e Deus,
Cavaleiro e general.”
Os escritores Joaquim de Montezuma de Carvalho, José Caldeira e Nuno Mata, publicaram artigos sobre esta lenda religiosa que continua a espalhar-se pela nossa Beira-Serra acerca deste Menino inigualável, acerca do qual Aquilino Ribeiro fez O Livro do Menino-Deus e Miguel Torga escreveu 22 poemas de Natal. E talvez se referissem os nossos Meninos Jesus da Beira se os conhecessem todos, pois se o primeiro nasceu na Beira e o outro andou por ela, de Seca e Meca aos Olivais de Santarém (com certeza passaram pela cordilheira da Estrela...)
Muito mais diríamos se tivéssemos tempo e espaço, mas voltemos ao Menino Jesus da Ladeira de Nossa Senhora do Mont’Alto (de que guardamos a imagem de um calendário que mandei emoldurar), pois ainda tenho de referir as três crônicas que a escritora Regina Anacleto publicou na (já) antiga “Comarca, em 1991: “As imagens do Menino Jesus, também denominadas de vestir, começaram a aparecer em Portugal no século XVI e vulgarizaram-se no seguinte, mas a sua difusão encontra-se relacionada com o movimento da reforma católica, surgida depois do Concílio de Trento”.
Não obstante a primitiva imagem do Menino do Senhor da Lareira foi um galante rapaz, vestido à portuguesa. que vimos pela primeira vez num belo estudo do então jovem Alberto da Veiga Simões, na revista “Ilustração Portuguesa” (em 1906), retrato que Regina Anacleto também reproduziu no seu 3º. texto sobre o Menino Jesus da Ladeira. E de acordo com a historiadora arganilense a figura do rapaz espigardote terá sido substituída por uma roupa lusíada do Menino Jesus.
Entretanto, subsiste a lenda de que, após as violências dos franceses, quando se aproximaram de Arganil os segundos invasores uma devota mulher do povo prometeu “revestir” o Menino com um traje “à Napoleão” em desafronta aos inimigos, ladrões, incendiários e assassinos. E eles passaram ao largo, felizmente, e o nosso Menino Jesus afastou igualmente de Arganil os terceiros invasores, e ainda hoje continua de pé, sorridente, alegre e parece que irônico, bonito, com seu bastão de comando e o símbolo do poder do mundo em suas mãos.
domingo, 13 de dezembro de 2009
O MENINO JESUS DO SENHOR DA LADEIRA E OS OUTROS MENINOS DE NATAL
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