sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Comentário Sobre o Livro "Poeta e Cronistas Africanos" de 1963



Publicada no Brasil por um autor português, esta colectânea de literatura africana de língua portuguesa surgiu num momento em que a União Indiana anexara já os territórios da chamada Índia Portuguesa e a sublevação armada se iniciara em Angola e na Guiné.

Contudo, a tese do autor sugere que, literariamente, essa sublevação já se iniciara havia muito nos cinco territórios africanos sob administração colonial portuguesa. Uma sublevação que crescera com os discursos identitários e se afirmara com as narrativas sobre as especificidades de cada território. Recuando ao movimento Claridade, de Cabo Verde, e à voz singular de Costa Alegre, de S. Tomé e Príncipe, o autor pretende ilustrar essa tese reunindo neste volume uma diversidade literária que não era tolerada pelo regime.
Surgindo depois da Antologia de Poesia Negra de Expressão Portuguesa (1958), publicada em França por Mário de Andrade (1929-1990), depois das colectâneas Contistas Angolanos e Poetas Angolanos, publicadas em Lisboa pela Casa dos Estudantes do Império, depois das antologias Contos de África (1961) e Novos Contos de África (1962), editadas pelas Publicações Imbondeiro, e depois do volume de análise sócio-literária L'Afrique dans l'oeuvre de Castro Soromenho (1960), de Roger Bastide (1898-1974), a presente colectânea poderia parecer nada acrescentar às anteriores, não fosse o caso de incluir, entre outros, textos de Luandino Vieira e Agostinho Neto...
Apesar da sua importância e do valor simbólico da sua publicação naquele preciso momento, é curioso verificar a apreciação do autor sobre a obra, passados 24 anos, na dedicatória que se reproduz: "(...) estes 'velhos' Poetas e Contistas Africanos de Expressão Portuguêsa, lembrança de um tempo já ultrapassado, hoje válido apenas como documento, (...)".


Texto Puplicado em: http://www.literaturacolonialportuguesa.blogs.sapo.pt/

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