terça-feira, 13 de outubro de 2009

“OS SERTÕES” de Euclides da Cunha e o Sebastianismo de António Conselheiro


Com aproximação do centenário da morte de Euclides da Cunha (19 de Agosto de 1909) impõe-se nova leitura da reportagem de Canudos e do livro Os Sertões.

Recorda-se que a viagem foi realizada por sugestão de Júlio Mesquita, diretor de O Estado de S. Paulo, após a publicação neste jornal dos 2 artigos de Euclides sobre A nossa Vendéia (em 14 de Março e 17 de Julho de 1897), estabelecendo paralelos entre a insurreição dos “vendéanos” (1793 a 1796), que combateram os excessos da Revolução Francesa, reprimindo as atividades religiosas. No caso do Brasil, era o combate republicano aos monarquistas.

Neto do comerciante português Manuel da Cunha e filho do também comerciante Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha e de D. Eudóxia Moreira, o futuro militar, engenheiro e escritor nasceu em 20 de Janeiro de 1866 numa fazenda de Cantagalo (Rio de Janeiro) e morreu em Piedade (RJ) no dia 15 de Agosto de 1909, mas foi com os artigos comparando os acontecimentos da Vendéia e de Canudos (no Vale do Iripiranga ou Vaza-Barris) que começou verdadeiramente a sua carreira literária.

Euclides salientava que Canudos albergava “a horda dos fanatizados sequazes de Antonio Conselheiro, o mais sério inimigo das forças republicanas” e citava a Vendéia, acrescentando: “A mesma coragem bárbara e singular e o mesmo terreno impraticável aliaram-se, completaram-se. O chouan fervorosamente crente (dos vendeanos) ou o tabaréu fanático, precipitando-se impávido à boca dos canhões que tomam a pulso, patenteiam o mesmo heroismo mórbido numa agitação desordenada e impulsiva de hipnotizados”.

No 2º. artigo, Euclides comenta a “notícia do lamentável desastre” sofrido pelos militares que haviam enfrentado “a horda dos fanatizados sequazes de Antonio Conselheiro” e compara o “desastre” aos suportados pela Inglaterra, França e Itália ou pela Espanha no combate aos insurretos de suas colônias, no início do século XIX e aguardava \a vitória das tropas da República, “quando forem desbaratadas as hordas fanáticas do Conselheiro. Não foi tanto assim… mas as informações de Euclides levaram Júlio Mesquita a convencê-lo a fazer a reportagem sobre o fenômeno de Canudos e no dia 7 de Agosto de 1897 ele escrevia a primeira crônica, ainda a bordo do vapor “Espírito Santo”, pelo qual chegara a Salvador (“O Estado”, 18-8-1897). E mais uma trintena de crônicas seriam divulgadas, a última das quais sob o título de “O Batalhão de São Paulo” (26-10-1897).

Em 10 de Agosto, o repórter escrevia de Salvador: “A opinião geral, entre os combatentes que voltam, é que estamos no epílogo da luta.” E em 12 de Agosto falava do regresso dos feridos, dando outros pormenores dos combate e em 13, 15, 16, 18, 19, 20 e 21. Somente em 1º. de Setembro seguiu para a “frente” do conflito, informando de Queimadas: “o dia esgota-se em preparativos de viagem”, mas voltou a escrever da mesma povoação no dia 4 e, no mesmo dia, enviou carta já de Tanquinhos. A 5 deu notícias de Cansação e, nesse dia, escreve de Quirinquinquá e, em 6, 7, 8, 9, 10 e 11 de Monte Santo, dizendo que no dia 10 já avistara “o imenso arraial de Canudos”, sublinhando: “Dois meses de bombardeio permanente não lhe destruiram a metade sequer das casas (…) E olha-se para a aldeia enorme e não se lobriga um único habitante.”

A narrativa prosseguiu em 24, 26 e 27 e adiantou que nesta última madrugada a fuzilaria tinha durado 2 horas e meia, adiantando que desde as 9 da noite houvera mais tiroteio até às 9 da manhã seguinte. No dia 29 de Setembro, mais tiros. E em 1º. de Outubro ‘”foi ordenado o assalto” às posições do Conselheiro, esclarecendo: “A noite desceu serenamente sobre a região perturbada do combate e rasgando o seio da noite, caindo, insistentes, sobre todos os pontos da linha do cerco, sibilando em todos os tons, sobre o acampamento, inúmeras, constantes, da zona reduzida em que se encontravam os jagunços, irrompiam as balas”. E com estas palavras Euclides da Cunha fecha a reportagem.

Bibliografia Euclidiana:

Os Sertões (1902), Relatório da Comissão Mista Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do Rio Purus (1906), Castro Alves e seu Tempo (1907), Peru versus Bolívia (1907), Contrastes e Confrontos (1907), À Margem da História (1908), Canudos (Diário de uma Expedição, 1939), Discurso de Recepção na Academia Brasileira de Letras (em Obras Completas, 1966).

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