quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

As Crónicas e Memórias - Opinião Sobre o Livro de António Lopes Machado

Tão assíduo na Imprensa como no livro, o jornalista-escritor António Lopes Machado lançou recentemente mais uma obra, em 2 volumes, sob o título de Crónicas e Memórias (com 365 e 156 páginas, respectivamente). Os temas interligam-se, caracterizando a trajectória do Autor e, ao mesmo tempo, testemunham as metas cumpridas, no decurso superior a meio século.

Muito bem fez ele: o que se publica nos jornais (por mais relevante que seja) é quase sempre esquecido no dia seguinte, se exceptuarmos os homenageados, que guardam ciosamente as referências, ainda que, na circunstância, os textos assinados pelo jornalista-escritor valham muito mais que os actos de certos ocupantes de um poder transitório, embora alguns deles o julguem eterno, apesar de ser apenas episódico. O que não ocorre com os livros onde ficam para sempre recolhidos os milhares de artigos que o periodista publicou e permanecem (pelo menos) na memória das Bibliotecas.

António Lopes Machado somou 521 páginas, em 6 capítulos, nas suas Crônicas e Memórias, abordando inicialmente a “Ligação às origens e à juventude” e, em seguida, “Conterrâneos, companheiros e temas do Regionalismo”, “Conhecer melhor o País, viajando”, “ Para além das fronteiras” , “Imagens do Brasil” e. por fim, “Crônicas diversas”.

Com estes dois últimos volumes, completa um ciclo que perspectiva não só a actividade jornalística, mas também a de escritor (quase sempre ligadas), desde os estudos em torno do Poeta Brás Garcia Mascarenhas à “História do Petróleo”, antes dos 5 tomos das Rotas do Universo, bem como os 2 de Crônicas do Regionalismo, série que prossegue com Pombeiro da Beira e sua Freguesia, além do livro Casa da Comarca de Arganil (1929-2004).

A obra literária, histórica e jornalística de António Lopes Machado é tão vasta quanto valiosa e pode considerar-se que não é possível documentar-se hoje a história do Movimento Regionalista sem o consultar, a exemplo do que fez a Profª. Drª. Maria Beatriz Rocha-Trindade, pesquisadora e socióloga do melhor quilate, que vai publicar uma análise oportuníssima sobre esse fenómeno que nasceu e se impôs na Beira-Serra. E outros subsídios de peso têm sido dados por Lopes Machado nas suas documentadas v iagens através do Mundo.

Não sendo propriamente um historiador, Lopes Machado tem sido um laborioso construtor do nosso tão mal conhecido universo da Beira-Serra, pois as suas crônicas e memórias baseiam-se na realidade, às vezes desagradável, como é a situação material ainda bastante inconfortável de milhares dos beirões serranos que continuamos a ser. Felizmente, não falta dignidade no apelo ao trabalho das gentes da Beira-Serra.

Pode parecer um contra-senso, mas à nossa região não escasseiam valores morais e intelectuais da melhor estirpe, na Vida e na Literatura, já que podemos orgulhar-nos de grandes escritores, desde épicos como foi Brás Garcia Mascarenhas (talvez o maior depois de Camões, disse o ensaísta Fidelino de Figueiredo). Ou do mal estudado Simões Dias. Ou do Visconde de Sanches de Frias, autor que cçnvém reler. Ou de Veiga Simões, cuja obra desmantelada deveria ser o protótipo da Cultura a ser prestigiada. Ou dos notáveis Padres Nogueira Gonçalves e Nunes Pereira, grandes escritores. E de outros que continuam presentes na História Cultural da nossa Terra!

Cada um tem seu lugar e o de António Lopes Machado ele o ocupa com distinção no Jornalismo e nas Letras, por obra e graça do humanismo tão excelentemente ilustrado por aqueles que desde os anos 20 do século passado se entregaram à edificação do Regionalismo. Infatigável, Machado perde-se e acha-se na vanguarda. Em silêncio, mas entendendo que a sua tarefa vai do jornal ao livro e deste até à revista Arganilia, cujo acervo documental não tem paralelo na História Cultural da Beira-Serra.

Talvez seja repetição o que dizemos, mas o autor de Crônicas e Memórias será certamente avaliado, um dia, pelo que cumpriu nos milhares de páginas dos 13 livros que publicou em louvor da nossa Terra e da acção dos Lusíadas de ontem e de hoje que testemunhou nos cinco cantos do mundo por onde tem andado. Por seu portuguesismo e, em especial, pela dedicação à Beira-Serra.

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