quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O BRASIL JÁ ESCREVE COM A NOVA ORTOGRAFIA

Desde o dia 1 de Janeiro de 2009, os jornais e revistas mais importantes do Brasil (O Estado de S. Paulo, O Globo e Folha de S.Paulo, entre outros, assim como a revista Veja e todas as publicações da Editora Abril adoptaram a nova ortografia, enquanto o Diário Oficial (do Estado Federal) e o Diário Oficial (do governo estadual de São Paulo, que tem a característica de ser o maior jornal do Mundo, pois uma das suas edições já alcançou a cifra recordista de 800 páginas!) anunciaram o propósito de seguir as duas formas, eliminando gradualmente a antiga. O Diário Oficial paulista apresenta já o seu noticiário com o vocabulário aprovado,mas os editais, portarias e resoluções governamentais devem manter as normas recém-aprovadas – o mais tardar até ao fim de Dezembro de 2012.

De um modo geral, a Imprensa acolheu as mudanças ortográficas sem críticas,
enquanto os leitores confessam que vão enfrentar dificuldades que só com tempo hão-de ser vencidas e perguntam: quando é que se usam – ou não – o hífen, os acentos agudo, grave e circunflexo? E quando é obrigatório o recurso – ou não – do h? E os casos dos rr duplos ou separados ou com hífen? E o trema foi definitivamente eliminado? E as letras k. w.y. que voltaram ao alfabeto, depois de terem desaparecido por largos decénios? E aquelas palavras que os portugueses abriam com os acentos tônicos e os brasileiros fechavam com o circunflexo? E a pronúncia que diverge entre o Brasil, Portugal e os outros 6 países de língua oficial comum?

Dúvidas é que não faltam, mas os especialistas que apóiam (os brasileiros
escreviam com o acento “ó”) as regras oficializadas garantem que o sistema afeta somente 0,4% do velho alfabeto que costumavam seguir) , isto é,as alterações são tão poucas que muito em breve serão absorvidas pelas populações dos 8 países de idioma camoniano – a palavra correcta que certas vezes era grafada com “i” ou com “e”... cada um tinha a opção pessoal. E vai continuar a mantê-la , mas dizem o defensores “modernistas” que no ensino devem ser cumpridas as regras, pelo menos até 2012!

Tomando as determinações a sério há quem se divirta e chame a atenção para a evolução lingüística (e não se diga que os outros idiomas nunca mudaram!). Porém, o que interessa é o nosso evoluir, de acordo com o oportuno texto redigido no dia 1 de Maio de 1500 por Pero Vaz de Caminha, cuja bela prosa foi sempre elogiada por todos os gramáticos daquém e dalém-mar (e não só!): “neeste dia a oras de bespera ouuvemos vista de terra,s, primeiramente d huu
gramde monte muy alto e rredondo e doutras serras mais baixas ao sul dele
e de terra chã com grandes aruoredos, ao qual monte alto o capitam pos nome o ascoal e aa tera a terá da Vera cruz” (...)

Aí se redescobre o português quinhentista da época de “Pedralvares Cabral” e se repete, agora, o português redigido por brasileiros (e o de portugueses será diferente?): “Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de erra ch, com grandes arvoredos; ao monte alto o capitão pôs nome, o Monte Pascoal e à terra, a Terra de Vera Cruz” (...)

Ninguém poderá negar que as palavras evoluíram, embora os homens tenham mudado muito mais!

O Prof. Godofredo de Oliveira Neto, Presidente da Comissão de Língua Portuguesa do Ministério da Educação (Brasília) e do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (Rio de Janeiro), declarou há dias: “A reforma já está valendo. É compreensível que as editoras demorem um pouco mais”. Entretanto, a Academia Brasileira de Letras acaba de anunciar que deve ser apresentado em Fevereiro de 2009 o Vocabulário da Língua Portuguesa, que destacará com certeza as palavras que devem ser grafadas com a nova ortografia. E então os do “contra” não deixarão de observar que o vocabulário “di cá” não será igual ao “di lá”, esquecidos de que o Vocabulário da Academia das Ciências de Lisboa não era exactamente igual antes da reforma que entrou em vigor.

Houve várias mudanças ortográficas e até lingüísticas e assinala-se que a de 1911 foi decidida por Lisboa, sem consulta ao Rio de Janeiro, falta que Fernando Pessoa condenou e que provocou outras discordâncias em Portugal, mas tudo ficou como dantes porque os brasileiros não aceitaram as imposições dos acadêmicos lisboetas. Contudo, relembram-se agora os acordos entre Portugal e Brasil, assinados em 1931 (a pretendida unificação ortográfica não se fez), em 1943 (com um “Formulário Ortográfico”, que não vingou) e em 1971 o Brasil sugeriu alterações, incluindo a supressão de acentos.

Em relação ao último acordo para a nova ortografia, as reuniões principiaram, em Maio de 1986, no Rio de Janeiro, e admitiu-se um “projecto de reforma”. As reuniões prosseguiram em Lisboa (Outubro e Dezembro de 1990), Brasília (Abril de 1995 e Julho/Agosto de 2002), São Tomé (Julho de 2004), prevendo-se a entrada emvigor de um acordo (em Janeiro de 2007), já subscrito pelo Brasil (2004), Cabo Verde (2005) e São Tomé (2996).O Presidente Cavaco Silva sancionou-o em Julho de 2008 e o Presidente Lula da Silva em Setembro do ano passado. Finalmente, o acordo começou a vigorar no Brasil no dia 1 de Janeiro de 2009! Para valer? Espera-se que sim!

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