Não é somente por isso que se destaca mas também porque reúne um dos mais importantes acervos artístico-históricos, principalmente no domínio dos vitrais – 48, distribuídos pelo salão nobre “Padre Manuel da Nóbrega” (33 painéis), Capela (11) e fachada (4). Idealizado pelo Com. Abílio Brenha da Fontoura, é “um translúcido e colorido relicário a guardar, como um todo unido no tempo e no espaço, Portugal e Brasil”, disse o Poeta Guilherme de Almeida, que com os seus conhecimentos de heráldica teve participação direta na obra, cujos retratos e brasões foram ilustrados por Zucaro (pintor), Aristach (desenhista) e Leonardo Renhauer (responsável pela cor), sendo a execução de Conrado Sorgenitch, ao asso que a reprodução do políptico de São Vicente é cópia do original que se conserva em Lisboa.
Na entrada principal do edifício, apontam-se as figuras de São Joaquim (patrono do hospital), o Rei D. Afonso Henriques, a Rainha Santa Isabel e Pedro Álvares Cabral (na figuara à direita), esclarecendo –se que as peças são de 3 épocas distintas – as da fachada vieram do primeiro hospital (de 1876), as do salão nobre têm pouco mais de meio século e as da Capela são da década 60 do século XX, com imagens dos santos e beatos: Rainha Santa Isabel, São João de Deus, São Gonçalo, São João de Brito, Santo António de Lisboa e os Beatos Nuno Álvares Pereira e Inácio de Azevedo, alem dos batizado de Cristo e do índio Diogo e mais 2 imagens sacras.
No fundo da salão nobre, encontra-se a cópia fiel do discutido políptico de São Vicente de Fora, atribuído a Nuno Gonçalves, separado em vitrais com 10 colunas com as seguintes inscrições: “Painel dos Frades” ,”Painel dos Pescadores”- “Lisboa E.D. 1465” – “Nuno Gonçalves” – “Painel do Infante”, “Painel dos Cavaleiros” – “Painel da Relíquia”. Dos estudos em torno desta obra , salientamos a conferência “A Epopéia da Raça nos Vitrais da Beneficência Portuguesa”. proferida em 9 de Setembro de 1961 pelo historiador Pedro Calmon, segundo o qual o salão Pe. Manuel da Nóbrega é “o mais belo e sugestivo do país” – uma presença do passado “mais viva e poética”, como se fosse um Livro de Horas, “ilustrado e velho livro iluminado com as grandes cenas e personagens insignes da nossa tradição, convivendo com as sombras veneráveis dos homens que fizeram o Brasil”.
Explicando o sentido e o espírito dos vitrais, acrescentou Pedro Calmon: “A história principia com o sonho do Infante de Sagres deitando, das alturas do promontório, o olhar profético pelo mar ‘nunca dantes navegado’, vendo, e prevendo, para lá do horizonte físico, o perfil verde da terra adivinhada. Começa a história do Brasil com a epopéia das navegações e descobertas, quando o Infante D. Henrique como que abriu, com,as suas mãos poderosas, as cortinas que velavam o mundo novo: e isto é incomparavelmente sugerido pelo políptico que se conserva no Museu de Arte de Lisboa, as famosas tábuas de Nuno Gonçalves”.
Os restantes vitrais do “Salão Padre Manuel da Nóbrega” ilustram, do lado direito, o Infante D. Henrique (o homem que sonhou e promoveu as pioneiras viagens inter-oceânicas), o Rei D. Manuel I (1495-1521), o Rei D, João III (1521-1557) e o colonizador e povoador Martim Afonso de Sousa (1530-1533), anotando-se igualmente o conjunto de 4 vitrais evocativos da chegada de Pedro Álvares Cabral e seus companheiros a Porto Seguro, bem como outros vitrais com os nomes e brasões dos navegantes e descobridores das novas terras.
Do lado esquerdo do grande salão, enumeram-se os homens que consolidaram o território de Vera Cruz: João Ramalho (1531), que fundou Santo André (a primeira povoação do planalto) e foi co-fundador de São Paulo, vindo depois os Padres Manuel da Nóbrega e Manuel de Paiva (que lançaram as bases de São Paulo), os quatro vitrais dos Bandeirantes (“Andam sempre de vigia / em contínuos perigos / com mil sobres-saltos de Corpo e Alma”), vendo-se também o Padre António Vieira e a Rainha D. Leonor, que fundou em 1498 as Misericórdias, cujo espírito haveria de se alargar no século XIX às Beneficências dispersas por Portugal, Brasil e outras terras distantes. E constam ainda desta banda da sala nobre os brasões e pessoas que desbravaram e consolidaram a Nação Brasileira.
Por tudo isto se dá razão ao historiador Pedro Calmon, ao ponderar que o “Salão Padre Manuel da Nóbrega” é mais do que um símbolo: “Realmente, atinge o idioma a sua maturidade, o sentimento nacional desponta e afirma-se. A fisionomia do povo como que adquire o seu contorno físico, o Brasil ergue-se na oratória daquele padre (António Vieira) que tinha o discernimento do político e a visão do profeta.”
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