quinta-feira, 9 de abril de 2009

SANTO ANTÓNIO “É” VEREADOR NO BRASIL

Aguarela Brasileira (*)

A TV Globo noticiou no seu programa dominical “Fantástico”, que tem enorme audiência, em 13-04-2008, que Santo António de Lisboa era vereador municipal de Iguarassú (Estado de Pernambuco) e que, conforme os outros edis, recebia $3.800,00 mensais.

Dado que ele já está no céu há cerca de 800 anos, o dinheiro tem sido entregue pontualmente a uma Associação Franciscana local – e a TV filmou até a freira que ia ao erário municipal buscar o subsídio e depositá-lo na conta bancária associativa. Até aí nada demais, mas um apresentador da “Globo” comentou “o caso”, observando que o popular santo lisboeta continuava a rezar certamente pelos habitantes de Iguarassú, orientando as autoridades no sentido do progresso material e da probidade dos homens públicos – obrigação que nem sempre é cumprida pelos vereadores, deputados, etc.

Já com certa ironia, o comentarista da televisão formulou votos para que o nobre vereador continuasse a sua boa missão e que poderia ser até mesmo eleito deputado federal - o seu vencimento seria de R$80.000, pois não receberia os subsídios complementares, que representam, no mínimo, mais R$20.000, sob o pretexto de que o parlamentar tem de pagar transportes, correio, telefones, etc, etc, etc.

Ora, no Paraíso, o Padroeiro de Lisboa não gasta nenhum dos suplementos atribuídos aos eleitos para os Municípios, Estados, República Federal, ministros e outros que tais, pois ele trata directamente de todos os assuntos, até agora limitados a Iguarassú , mas que seriam alargados legalmente por todo o País, considerando que o nosso Santo António não fala em excesso, nem jamais se envolveu nos actos condenáveis dos corruptos, ladrões e malandros useiros e vezeiros de toda a espécie. Como homem foi sempre correcto enquanto esteve na terra, e ainda hoje vai operando milagres para quem os merece e até protege os namorados!

O programa “Fantástico” não revelou a origem da generosa devoção antoniana, mas supomos que ela vem do pedido feito pelos iguarassuenses ao Rei de Portugal, D. José I, que nos termos da Carta Régia de 23-XI-1754 (haveremos de republicá-la na íntegra, pois vale a pena) proclamou: “sou servido permittir-vos, por rezolução de oito do corrente tomada em consulta do meo conselho ultramarino, que havendo sobejos nos bens desse conselho deis esmolla de vinte e sette mil réis annualmente aos Religiosos do dito Santo, com o titulo de Protector dessa Camara” (...)

Uma fotocópia da Carta Régia de D. José I foi transcrita no livro Santo António de Lisboa militar no Brasil, de José Carlos de Macedo Soares ( Livraria José Olympio-Editora, Rio de Janeiro, 1942). Autor de mais de mais de três dezenas de livros sobre História, Direito, Política, etc, ainda conhecemos o Dr. Macedo Soares, que visitámos um dia para lhe solicitarmos informações sobre Santo António. E o precioso volume (com muitas outras histórias antonianas e dezenas de ilustrações) foi-nos oferecido pelo livreiro luso—paulista Luís de Oliveira Dias (“e que Santo António o proteja”). Aliás, o livro foi encontro milagroso: depois da Missa, celebrada na Capela de Santo António (São Paulo), assinalando o 8º centenário do santo português, fui à livraria do amigo Luís, que não estava: entrando na Sala Camões, vi o livro do Dr. Macedo Soares: guardei-o na expectativa de adquiri-lo, mas o Luís resolveu oferecer-mo, pois sabia do meu interesse pelo grande santo e taumaturgo.

Tenho lido referências ao “militar” que Santo António não foi, mas quero assinalar que ele foi protector de numerosos regimentos não só no Brasil mas também, em Portugal (onde um general cujo nome agora não me ocorre defendeu a promoção de Coronel ao posto de General do Exército Português). É evidente que para os muitos milhões de devotos a Santo António, Ele merece muito mais!

(*) Com este título, publiquei durante anos crônicas no diário “O Primeiro de Janeiro” e em outros jornais portugueses e brasileiros, sob o pseudônimo de “J.A.”, porque a censura fascista cortava quase todos os artigos publicados com o meu nome. Com esta crônica, pretendo recomeçar esta “Aguarela Brasileira” sempre que puder.

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