segunda-feira, 15 de junho de 2009

"In Memoriam": HENRIQUE GALVÃO, ESCRITOR E POLITICO‏ - Parte I

Muito tem sido dito e escrito por e contra o Capitão Henrique Carlos Malta Galvão, que se tornou mundialmente conhecido por haver projectado e comandado, em 1961, o apresamento do navio “Santa Maria”.

Celebrado pela acção política que cumpriu contra o regime de António de Oliveira Salazar, o Cap. Galvão passou a combater as falcatruas praticadas pelos apaniguados do regime em Portugal e nas antigas colônias. Sem duvida, foi uma luta desigual e sem tréguas em prol da liberdade no país natal.

Nascido no Barreiro, frente a Lisboa, em 4-2-1895, Henrique Galvão morreu em São Paulo do dia 25-6-1970. O tempo esfuma-se e são cada vez menos os que o apoiam ou odeiam, porque as divergências ideológicas ainda hoje persistem: o comandante do “Santa Liberdade” (como ele designou o navio) não foi aplaudido pelos “abrilistas”, nem dos direitistas nem dos esquerdistas. Mas se o político foi esquecido a sua obra literária pertence para sempre à História da Cultura Portuguesa do século XX.

Evidentemente, há excepções: foi publicado recentemente em Portugal o livro Andanças para a Liberdade (1), de Camilo Mortágua, que relata não só a vida do autor em Portugal e na Venezuela, mas também os preparativos do Cap. Galvão, em Caracas, para desencadear a “Operação Dulcineia”. E os democratas portugueses não podem esquecer os riscos enfrentados pelo capitão insubmisso.

Na última página do seu livro, Camilo Mortágua, descreve fim da “viagem” no Recife e o caminho futuro: “As próximas “andanças” hão-de levar-nos de volta a Lisboa e à restauração da Liberdade, “esperando dela, e tão só, todas as recompensas”. E promete completar o relato da aventura iniciada com o “Santa Liberdade”.

Por seu turno, Eugénio Montoito salienta, no livro “Henrique Galvão (2)”, “a dissidência de um cadete do 28 de Maio (1927/1952)” quando o jovem militar esteve ligado ao Golpe de Estado de 1926 e à conspiração dos militares (7 de Fevereiro de 1927) e, mais tarde, à posição de ideólogo de excelência do colonialismo português”, chegando a seguir à “experiência parlamentar” e aos motivos que o levaram ao afastamento do regime, “através daquela mesma África que tinha originado a união e a convergência política”. No último capítulo do livro, Eugénio Montoito recorda o ingresso do Cap. Galvão na campanha presidencial do Almirante Quintão Meireles, oposicionista, e em outras fases do combate aberto ao regime ditatorial de Salazar. Toda a gente sabe que Henrique Galvão enfrentou de peito aberto o combate à Ditadura – e a “viagem” com o “Santa Liberdade” era apenas o episódio mais eloquente da sua luta anti-salazarista do Cap. Galvão.

A “Operação Dulcineia” foi documentada em 7 artigos publicados no jornal O Estado de S. Paulo”(de 19-2-1961 a 26 do mesmo mês). Antes, porém. Galvão escrevera 2 artigos na revista Anhembi, dirigida pelo jornalista e escritor Paulo Duarte (fev. e março de 1953) sobre a Ditadura salazarista e no jornal ATribuna , (27-3-1960), mas a aventura do Santa Maria apareceu em numerosos jornais e revistas de vários países, embora O Estado de S. Paulo tenha sido a barricada mais firme deste novo período de luta ao fascismo português (o tiroteio alargou-se por mais de 40 artigos, além de outra quinzena de textos acerca da fauna e de certos aspectos da vida africana (o último artigo saiu, em 16-10-1966).
(1) Esfera do Caos Editores Lda., Lisboa, 2009
(2) Ed. do Centro de História / Universidade de Lisboa/ Universidade de Lisboa,2005

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