quinta-feira, 2 de julho de 2009

Peço a palavra: FIGURAS E PAISAGENS DA BEIRA-SERRA NA OBRA DO PINTOR MONSENHOR A. NUNES PEREIRA


Há uma idéia feita de que a Beira-Serra é pobre, economicamente, o que é em parte verdade, embora tenhamos de abrir os olhos para várias grandes empresas. E remos uma agro-pecuária pobre, situação que se agravou, nos últimos, em virtude da migração e da emigração, porque os governantes de ontem e de hoje pouco fizeram para fixar os jovens. E muito pior estaríamos se não tivéssemos o movimento regionalista que, no último meio século, foi o motor básico de numerosas obras públicas regionais.

Não obstante as dificuldades apontadas, a Beira-Serra dispõe de um valiosíssimo patrimônio histórico, artístico e cultural, o que nos é garantido pelas obras literárias de que é honra e padrão o poeta Brás Garcia Mascarenhas, com o seu Viriato Trágico, uma das mais significativas no âmbito da poesia épica portuguesa. É claro que outras figuras exponenciais das Artes e Letras poderiam ser enumeradas, com relevo não só na Literatura mas também no Teatro, na Música, nas Ciências e no Ensino, na Pintura, etc.

O que nos tem faltado é uma divulgação dos nossos artistas nos meios culturais -os municípios eximem-se dos seus deveres comunitários e nós, simples mortais, não sabemos defender o acesso a uma vida intelectual que seja correspondente às nossas mais justas aspirações – e anotemos o que tem acontecido, por exemplo, no domínio das artes plásticas. E abrimos a série: quem é que, entre nós, conhece a obra de um Guilherme Filipe, Pintor e dinamizador cultural nascido em Fajão? Por que não foram até hoje reunidos em volume os centenares de artigos sobre temas regionais do Pe. A. Nogueira Gonçalves, o grande historiador da Arte Portuguesa? Quem e quando será feito o estudo imprescindível das obras literárias dos goienses D. Luís da Silveira, de António Francisco Barata e de Francisco Barata Dias? Quem é que se propõe republicar a obra de Sarah Beirão, que tão popular foi em vida e ninguém mais recorda? Quando é que se faz a reedição crítica do admirável poeta e cronista que foi Vasco de Campos? E os estudos históricos dispersos de Augusto Cid e as reedições dos ensaios históricos e literários de António Gonçalves Matoso e de Mário Mathias?

A lista dos esquecidos iria longe se não fosse citada de memória, e devemos observar que não pretendemos transformar a nossa Terra numa “academia de artes e letras”, porque há muita gente que por suas vidas e obras merece ser evocada, desde o empresário até o modesto trabalhador. Aliás, esta conversa principia com menção a um dos maiores artistas e intelectuais da Beira-Serra – o Padre Augusto Nunes Pereira, que foi poeta, historiador, folclorista, jornalista e fez outras coisas notáveis, com relevo ímpar no âmbito das Artes Plásticas.

Foi pensando neste sacerdote que andou por Montemor-o-Velho, Coja, Coimbra e pelos montes e vales da nossa Beira-Serra, desenhando, gravando e pintando figuras e paisagens. Não fomos os únicos que pensamos no extraordinário artista plástico que ele foi. Já o lembramos (nós e António Lopes Machado) na edição Nº. 13/2001 da revista cultural Arganilia, cujo percurso editorial será renovado em breve com o número consagrado a Regina Anacleto – Vida e Obra. Pois bem a justa missão que dedicamos a Mons. A. Nunes Pereira há muito tempo que se esgotou, como esgotadas estão quase todas as outras 23 – prova evidente de que há leitores, malgrado as dificuldades administrativas que nos asfixiam.

No longo diálogo à distância que temos mantido com Nuno Mata, concluímos que ambos colecionávamos livros, recortes e outros documentos sobre a obra de Augusto Nunes Pereira. Vamos fazer em breve o projeto do Álbum das Terras da Beira-Serra (Figuras e Paisagens), título ainda não definido, a partir dos textos de Monsenhor A. Nunes Pereira, com destaque para os seus livros Coja, Princeza do Alva, Panorama Artístico das Beiras, Nossa Senhora das Preces (com o Pe. Brito), Contos de Fajão, somando o apoio dos Cantares da Beira, de Maria da Conceição Oliveira, a quem devemos também o excelente Monsenhor Nunes Pereira (com José Maria Pimentel). E aguardamos as sugestões que outros nos possa oferecer.

O projeto está em marcha: agora, esperamos realizá-lo.

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