sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A BENEFICÊNCIA E AS MISERICÓRDIAS PELOS POETAS – Parte I


No decorrer das comemorações, em 1959, do 1º centenário da Real e Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência de São Paulo foram muitas e variadas as homenagens da Imprensa, das Autoridades Portuguesas e Brasileiras e até de alguns Escritores à instituição fundada em 2 de outubro de 1859.

Destacamos, entre essas homenagens a de Judas Isgorota, consagrado Autor Paulista, que publicou, na oportunidade, o “Poema Todo de Ouro”, transcrito a seguir:


Cinzelando o ouro velho, ouro de lei, maciço,

da mais augusta tradição coimbrã,

eu quis fazer uns áureos versos. Um poema

todo de ouro, em que, desde a palavra fúlgida,

à existência formal, desde o ritmo à essência,

tudo fosse moral e exemplarmente belo.


Um poema que lembrasse um lavor de Cellini

e tivesse em seu bojo, resplendente,

o pensamento de ouro

dos versos áureos que escreveu Pitágoras um dia.

Eu queria, porém, que esses meus versos áureos

dirigidos aos homens de manhã,

falassem da Beleza ideal dos crentes e dos simples

em sua exaltação à perfeição excelsa,

que é o Bem, o Amor, a Fé, a piedade cristã.


Para tanto busquei a história de três jovens

pobres e serviçais que viveram aqui.

A história se passou precisamente há um século.

São Paulo começava a descer o planalto

para ao depois transpor o Tamanduateí…

Eram eles: Luiz Semeão Ferreira Viana,

o segundo: Joaquim Rodrigues Salazar,

e o terceiro, Miguel Gonçalves Reis.


Os dois caixeiros, aprendizes de caixeiro;

Charuteiro modesto era o Gonçalves;

pobres, humildes, serviçais todos os três…

Tão simples, tão modestos, afinal,

que apenas se guardou de sua origem

terem nascido em Portugal…


Corações feitos de ouro,

almas feitas de luz, dessa luz que é bondade,

compreensão, amor, ternura humana;

dessa luz que ilumina as manjedouras puras;

os três jovens, sentindo as privações, as dores,

a vida ingrata e hostil de seus irmãos

na cidade que fora o seu sonho e que entanto

nada podia dar aos seus concidadãos;

os três, numa divina inspiração lançaram

a semente ideal!


E assim surgiu, precisamente há um século,

pobre, humilde e pequenino,

hoje monumental,

esse marco de glórias, que assinala

em terras de São Paulo a alma de Portugal:


- a Sociedade de Beneficência,

pela mais pura origem – Portuguesa:

pelos mais belos feitos – Benemérita:

pelos mais altos títulos – Real!


Eu quis fazer uns versos áureos. Um poema

da forma à essência feita de ouro em pó.

Não o fiz, pois que de ouro só o exemplo

puder dar-vos dos três:

de Luiz Semeão Ferreira Viana,

de Joaquim Rodrigues Salazar

e de Miguel Gonçalves Reis…


Não fiz que o desejar; por ser humano,

é tão precário, que dá dó…

Guardai, porém, o exemplo desses jovens,

que esse exemplo é de ouro, e ouro só!

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