quinta-feira, 23 de abril de 2009

Nun’Álvares: O CONDESTÁVEL DE PORTUGAL AGORA É SANTO

Há muitos anos que temos na mais alta consideração D. Nuno Álvares Pereira, que foi o principal consolidador da Independência de Portugal, com as vitórias sobre os castelhanos em Atoleiros (08-04-1384),Aljubarrota (14-08-1385) e Valverde (02-10-1385). O título de Beato, atribuído pelo Vaticano em 1919,prenunciava a sua santificação, oficializada – finalmente! - pelo Papa Bento XVI em 26 de Abril de 2009, depois de uma série de adiamentos que se explicam por certos distúrbios internacionais que a Igreja Católica não poderia ignorar.

Descendente de uma família aristocrata, D. Nuno Álvares Pereira era filho de D. Álvaro Álvares Pereira, que tinha o título honorífico de Prior da Ordem do Hospital, e de D. Iria Gonçalves do Carvalhal, que viveu na Corte, onde o jovem Nuno, nascido no castelo de Cernache do Bomjardim (ou em Flor da Rosa), ambicionava seguir os lendários Cavaleiros da Távola Redonda. Admirava as histórias de Cavalaria e dos Santos,pois era muito piedoso. E aos 13 anos foi armado Cavaleiro pela Rainha D. Leonor Teles, que casara com o Rei D. Fernando.

Não sabemos se os Correios acederam ao pedido de um grupo de portugueses que sugeriu a emissão de um selo que de Portugal levasse ao Mundo a imagem do novo Santo, mas não há dúvida de que a sua vida e obra foram sempre louvadas pelo Povo. E se o processo de canonização foi demorado devem ser recordadas agora algumas das figuras exponenciais da História de Portugal que ratificaram várias vezes o voto popular ao primeiro pedido de canonização foi certamente o do Rei D. Duarte, em 22-09-1437, conforme carta ao Abade João Gomes – “fazemo-vos saber que nós ainda não houvemos o desembargo que saiu do caninozamento do Santo Condestável, para que se tire a inquirição, que sobre isto se costuma fazer” (a carta está na Biblioteca Laurenziana de Florença).

Mais tarde, o Rei D. João IV propôs às Cortes de 1641 o envio de uma petição ao Papa Urbano VIII reiterando a canonização formal. E novas solicitações se fizeram em 1674 e 1894, mas somente em 15 de Janeiro de 1918 a Congregação dos Ritos aprovou a Festa de D. Nuno com a “Confirmação de Culto Antigo”. E em 14 de Novembro seguinte o Papa Bento XV considerou “Bem-Aventurado” ou “Beato” o Frade Carmelita português, que desde então pôde ser venerado nos altares católicos.

Em 1940, os Prelados de Portugal solicitaram ao Papa Pio XII a reabertura do processo de santificação de D. Nuno - e o pedido foi aceite no ano seguinte. Porém, só com o Santo Padre Bento XVI ocorreu a santificação, em Roma, aos 26 dias deste mês de Abril. Desde a morte de Frei Nuno de Santa Maria (no Convento do Carmo, em Lisboa, no dia 01-04-1431) decorreram 578 anos, mas – como diz o Povo, que é sábio – “quem espera sempre alcança!”.

Deverá recordar-se que não faltam milagres atribuídos ao Santo Condestável de Portugal, antes e depois da sua morte: em mensagem que nos enviou de Lisboa o escritor José Campos e Sousa observou-nos que nas Chronicas dos Carmelitas estão anotadas 24 curas de paralítico, alcançadas por intercessão de Frei D. Nuno, além de 21 curas de cegos e mais 21 de surdez, 18 moléstias internas e 6 aparições. E na Chronica do Condestável (publicada no reinado de D. Duarte) são-lhe atribuídos 221 milagres, mas o rol continuou a ser aumentado desde os tempos do Rei D. Afonso e nos seguintes.

Porquê mais de cinco séculos para que o Vaticano chegasse à Santificação? Os católicos admitem que este caminho é longo e cheio de obstáculos. Para eles, os milagres não se inventam – é imprescindível documentá-los. José Campos e Sousa esclarece que na longa peregrinação do processo foi preciso derrubar grandes obstáculos: “Poderosas pressões diplomáticas de certo país sempre se opuseram a este desejo dos portugueses”. É por demais evidente que o “certo país” foi o orgulhoso reino de Castela que até hoje não se conforma por ter sido derrotado três vezes seguidas pelo pequeno Portugal...

Bem explicou Luís de Camões:
"Dom Nuno Álvares digo: verdadeiro
Açoute de soberbos Castelhanos"
e no poema “Nun’Alvares Pereira” Fernando Pessoa acrescentou:
"Sperança consummada
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a entrada se ver!”

2 comentários:

O S Unas disse...

Agradeço a sua contribuição. Coloquei um link

Menina Marota disse...

Excelente texto que me deu um enorme prazer ler.

Grata pelo link sobre Maria Teresa Horta poetisa que muito admiro e de quem sou leitora quase obrigatória.

Um abraço