Foi trasladado da Sé de Olinda, mas não se sabia para onde, ao que disseram vários historiadores da Igreja Católica de Portugal e do Brasil. É certo que alguns se referiram superficialmente a D. Mathias de Figueiredo e Mello, cuja morte foi muito chorada em Olinda e Recife, principalmente pelos mais humildes, que lhe deram o título singular de “Bispo Santo”.
O magnífico Padre António Vieira considerou-o um dos mais altos valores do Clero, no seu tempo, ao ponto de o recomendar como sucessor do primeiro Arcebispo do Brasil, D. Frei de Jesus Maria: há duas cartas vieirinas ao Duque de Cadaval e a Diogo Marchão Temudo, salientando que D. Mathias seria um digno continuador da missionação lusíada. E não deixa de ser menos significativo que o grande escritor e pregador discordara do Prelado arganilense, quando Governador da então Província de Pernambuco, por este ter mandado prender um fidalgote que atrevidamente desrespeitara a lei, proibindo a entrada de pessoas armadas em Olinda. O prevaricador fugiu e refugiou-se no Colégio dos Jesuítas. O Bispo-Governador exigiu a entrega do infractor e os “padrezitos” resistiram à ordem – e D. Mathias não hesitou, mandou prendê-los também. Foi aí que o Padre Vieira, na sua condição de Visitador dos Jesuítas, solicitou clemência, na histórica carta de 12 de Abril de 1869. E a lei foi cumprida!
O historiador João Lúcio de Azevedo refere-se ao conflito, na História de António Vieira, assim como F. A. Pereira da Costa, nos Anais de Pernambuco, mas nenhum deles foi até ao fundo da questão - e nem estes nem outros historiadores a esclareceram devidamente. E quem era, afinal, esse Bispo D. Mathias, que foi Governador interino de Pernambuco? Os antigos cronistas limitam-se a dizer que,após a sua morte, os despojos foram trasladados para a Sé Catedral de Olinda, mas o templo foi duas vezes restaurado – e dos ossos do Bispo-Governador nem vestígios!
Convidados para fazer uma conferência sobre o Padre Vieira na cidade de Recife, aproveitamos a ocasião para averiguar onde estariam os restos mortais de D. Mathias - e na primeira visita a Olinda nada adiantamos. Insistimos, porém, e relendo o romance histórico Nossa Senhora dos Guararapes, de Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro (nosso ilustre conterrâneo da oliveirense Nogueira do Cravo) encontramos a reprodução do epitáfio (em latim e em português), comentando as “eminentes virtudes” do Prelado, que morreu precocemente, depois de seis anos de intensos trabalhos em benefício da Igreja, de Portugal e do Brasil (tinha apenas 40 anos de idade). Ajudou os pobres na luta contra a fome, no período de uma seca terrível que destruiu as colheitas agrícolas pernambucanas – e foi reconhecido por isso como “Bispo Santo”.
A dificuldade que tivemos para identificar os despojos é que o livro do Professor e Escritor Bernardino F.F. de Abreu e Castro foi editado em 1847, tendo sido o primeiro romance impresso em Recife (felizmente, soubemos pelo Padre José Vicente de uma edição fac-similar em 1980 e pudemos adquirir 3 exemplares – um oferecêmo-lo ao extraordinário sacerdote, jornalista e escritor, e outro foi para o médico e poeta Vasco de Campos). Valeria a pena acreditar no romance publicado há um século e meio?
“Tudo vale a pena”, proclamou o Poeta Fernando Pessoa. O nosso primeiro acompanhante a Olinda sublinhava a dificuldade de se encontrar qualquer documento de uma igreja 2 vezes reedificada, há mais de 300 anos! E o sacristão da Sé adiantou que nada sabia, mas fez-nos admitir mais uma vez que há sempre uma luz no fim do túnel: “Alguns dos túmulos têm lápides, mas em latim, e eu não sei latim”. Respondemos que também não sabíamos, mas talvez valesse a pena tentar. E, tendo de voltar rapidamente à cidade de Recife, fomos procurar, dois dias mais tarde, o amável sacristão, que nos abriu a porta de um salão anexo ao templo onde estavam diversos epitáfios dos antigos prelados e figuras ilustres olindenses.
Os nomes seriam com certeza em português e logo na primeira sepultura, à esquerda, pudemos ler: “D. Mathias de Figueiredo e Mello” – menino que nasceu na vila de Arganil no dia 14 de Fevereiro de 1851 e morreu “com 40 anos de idade: no de Christo 1684”, na antiga vila de Olinda, Província de Pernambuco.
Ficamos devendo a revelação ao escritor Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro e ao amável Gilvan Pereira da Silva, sacristão da Sé Catedral de Olinda. E tudo foi possível porque a caríssima Maria de Lourdes Hortas, notável Poeta, Ficcionista e Ensaísta luso-recifense (nascida em São Vicente da Beira) nos lembrou para que falássemos do Padre António Vieira e de três ilustríssimos beirões da Serra – Brás Garcia Mascarenhas (que ajudou a derrotar os holandeses invasores do Nordeste do Brasil); Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro (professor, escritor em Recife e fundador da angolana Moçâmedes) - aliás, o inspirador foi D. Mathias de Figueiredo e Mello, Bispo de Olinda e Recife e Governador interino da antiga Província de Pernambuco). Proferimos a nossa conferência no Gabinete Português de Leitura, abrindo o II Festival de Línguas e Literaturas Neo-Latinas, promovido pela Fundação Joaquim Nabuco e a Alliance Française.
O magnífico Padre António Vieira considerou-o um dos mais altos valores do Clero, no seu tempo, ao ponto de o recomendar como sucessor do primeiro Arcebispo do Brasil, D. Frei de Jesus Maria: há duas cartas vieirinas ao Duque de Cadaval e a Diogo Marchão Temudo, salientando que D. Mathias seria um digno continuador da missionação lusíada. E não deixa de ser menos significativo que o grande escritor e pregador discordara do Prelado arganilense, quando Governador da então Província de Pernambuco, por este ter mandado prender um fidalgote que atrevidamente desrespeitara a lei, proibindo a entrada de pessoas armadas em Olinda. O prevaricador fugiu e refugiou-se no Colégio dos Jesuítas. O Bispo-Governador exigiu a entrega do infractor e os “padrezitos” resistiram à ordem – e D. Mathias não hesitou, mandou prendê-los também. Foi aí que o Padre Vieira, na sua condição de Visitador dos Jesuítas, solicitou clemência, na histórica carta de 12 de Abril de 1869. E a lei foi cumprida!
O historiador João Lúcio de Azevedo refere-se ao conflito, na História de António Vieira, assim como F. A. Pereira da Costa, nos Anais de Pernambuco, mas nenhum deles foi até ao fundo da questão - e nem estes nem outros historiadores a esclareceram devidamente. E quem era, afinal, esse Bispo D. Mathias, que foi Governador interino de Pernambuco? Os antigos cronistas limitam-se a dizer que,após a sua morte, os despojos foram trasladados para a Sé Catedral de Olinda, mas o templo foi duas vezes restaurado – e dos ossos do Bispo-Governador nem vestígios!
Convidados para fazer uma conferência sobre o Padre Vieira na cidade de Recife, aproveitamos a ocasião para averiguar onde estariam os restos mortais de D. Mathias - e na primeira visita a Olinda nada adiantamos. Insistimos, porém, e relendo o romance histórico Nossa Senhora dos Guararapes, de Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro (nosso ilustre conterrâneo da oliveirense Nogueira do Cravo) encontramos a reprodução do epitáfio (em latim e em português), comentando as “eminentes virtudes” do Prelado, que morreu precocemente, depois de seis anos de intensos trabalhos em benefício da Igreja, de Portugal e do Brasil (tinha apenas 40 anos de idade). Ajudou os pobres na luta contra a fome, no período de uma seca terrível que destruiu as colheitas agrícolas pernambucanas – e foi reconhecido por isso como “Bispo Santo”.
A dificuldade que tivemos para identificar os despojos é que o livro do Professor e Escritor Bernardino F.F. de Abreu e Castro foi editado em 1847, tendo sido o primeiro romance impresso em Recife (felizmente, soubemos pelo Padre José Vicente de uma edição fac-similar em 1980 e pudemos adquirir 3 exemplares – um oferecêmo-lo ao extraordinário sacerdote, jornalista e escritor, e outro foi para o médico e poeta Vasco de Campos). Valeria a pena acreditar no romance publicado há um século e meio?
“Tudo vale a pena”, proclamou o Poeta Fernando Pessoa. O nosso primeiro acompanhante a Olinda sublinhava a dificuldade de se encontrar qualquer documento de uma igreja 2 vezes reedificada, há mais de 300 anos! E o sacristão da Sé adiantou que nada sabia, mas fez-nos admitir mais uma vez que há sempre uma luz no fim do túnel: “Alguns dos túmulos têm lápides, mas em latim, e eu não sei latim”. Respondemos que também não sabíamos, mas talvez valesse a pena tentar. E, tendo de voltar rapidamente à cidade de Recife, fomos procurar, dois dias mais tarde, o amável sacristão, que nos abriu a porta de um salão anexo ao templo onde estavam diversos epitáfios dos antigos prelados e figuras ilustres olindenses.
Os nomes seriam com certeza em português e logo na primeira sepultura, à esquerda, pudemos ler: “D. Mathias de Figueiredo e Mello” – menino que nasceu na vila de Arganil no dia 14 de Fevereiro de 1851 e morreu “com 40 anos de idade: no de Christo 1684”, na antiga vila de Olinda, Província de Pernambuco.
Ficamos devendo a revelação ao escritor Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro e ao amável Gilvan Pereira da Silva, sacristão da Sé Catedral de Olinda. E tudo foi possível porque a caríssima Maria de Lourdes Hortas, notável Poeta, Ficcionista e Ensaísta luso-recifense (nascida em São Vicente da Beira) nos lembrou para que falássemos do Padre António Vieira e de três ilustríssimos beirões da Serra – Brás Garcia Mascarenhas (que ajudou a derrotar os holandeses invasores do Nordeste do Brasil); Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro (professor, escritor em Recife e fundador da angolana Moçâmedes) - aliás, o inspirador foi D. Mathias de Figueiredo e Mello, Bispo de Olinda e Recife e Governador interino da antiga Província de Pernambuco). Proferimos a nossa conferência no Gabinete Português de Leitura, abrindo o II Festival de Línguas e Literaturas Neo-Latinas, promovido pela Fundação Joaquim Nabuco e a Alliance Française.
Nenhum comentário:
Postar um comentário