Diz Luís da Câmara Cascudo no seu Dicionário do Folclore Brasileiro, que sugere os elementos essenciais para o conhecimento do Brasil, que o Sebastianismo pode ter chegado a este País com os primeiros colonizadores e é possível que haja assumido “um matiz de culto religioso mais exigente e minucioso, uma moral mais ascética e rigorosa, dentro dos quadros católicos”.
Acrescenta o folclorista que John Luccock assinalou o vestígio da crença, em 1816, “numa pequena seita chamada sebastianismo”, conforme esclareceu no livro Notas sobre o Rio de Janeiro, descoberta que veio a ser confirmada no ano seguinte na Viagem pelo Brasil (de J,B. Spix e C.F. Von Martius, na serra do Caraça (Minas Gerais: “Estes sebastianistas – observa L.C. Cascudo - que se distinguem por sua atividade, economia e riqueza, são em maior número no Brasil, e especialmente em Minas Gerais, do que na própria mãe-pátria.
Independentemente das referências de outros estudiosos bastariam estas para levar o dicionarista do folclore a ponderar que o Sebastianismo reforçou a influência de D. João IV, não somente em Portugal mas também na unidade luso-brasileira: “E o Padre António Vieira sabia das reservas maravilhosas que essa imagem despertava no espaço popular, para que não a esquecesse e a soubesse usar.” Ninguém melhor do que Vieira, entre os três “embaixadores” que foram levar ao Rei, em Lisboa, a solidariedade da colônia, porque foi o grande pregador quem mais fez pelo fortalecimento da nação atlântica.
A participação do Padre Vieira na unidade nacional pode ser entendida no projeto jamais realizado do V Império, cuja raiz ficou documentada na histórica carta ao Bispo do Japão, D. André Fernandes. Mas esse é outro rumo que vários pesquisadores seguiram e interpretaram. Por agora, interessa-nos apenas a influência vieiriana na consolidação do Sebastianismo no Brasil, tão mal anunciado como pouco estudado. Fanáticos, oportunistas ou loucos foram os sebastianistas que propuseram o reino maravilhoso de o D. Sebastião ressuscitado – e esse nunca terá sido o Desejado que Vieira sugeriu ao Mundo, embora possa admitir-se que o eloqüente pregador viu talvez em D. João IV a esperança de um Portugal renascido.
As evocações do Sebastianismo no Brasil têm sido ilustradas por historiadores do porte de João Lúcio de Azevedo, principalmente na Evolução do Sebastianismo, e no comportamento que Euclides da Cunha apontou em Os Sertões ao qualificar ,António Conselheiro como Sebastianista convicto. Entretanto, da apologia sebastiânica de Vieira no Brasil muito ficou na alma popular do fanatismo inconseqüente que deixou como saldo a morte de alguns que esperavam a volta do Desejado.
Sem data de edição, encontramos recentemente o livrinho História do Reino Encantado da Pedra Bonita, da autoria de Fernando Alves de Carvalho (Editora Coqueiro, Recife), dando notícia de outras “histórias de cordel”, todas de inspiração popular, desde a Memória sobre a Pedra Bonita ou Reino Encantado na Comarca de Villa Bella (escrita por António Attico de Souza Leite e impressa em 1875), que teria inspirado A Pedra do Reino (outrora conhecida por “Pedra Bonita”), de Ariano Suassuna. (Com o título de Pedra Bonita, José Lins do Rego escreveu um romance sobre o mesmo tema).
Mais nos informa o autor da História do Reino Encantado da Pedra Bonita que tudo começou com uma “guerra” entre sebastianistas e “forças da ordem”, em 1887, durante a qual morreram 87 pessoas e que em lembrança do drama foi criada a Associação Cultural Pedra do Reino, que promove todos os anos, em Maio, uma cavalgada, que atrai grande multidão à igreja matriz de São José do Belmonte (Pernambuco), onde são promovidos “cantorias, aboios e desafios de violeiros”. E depois os cavaleiros seguem até à Pedra do Reino, distante cerca de 60 km – o sítio histórico é patrimônio municipal desde 1988.
Conta ainda o “cordelista” Fernando Alves de Carvalho que o mameluco João António dos Santos dizia que o Rei D. Sebastião , desaparecido em Alcácer-Kibir, em 1578 lhe havia aparecido para mostrar um tesouro escondido: “O mameluco tinha sempre às mãos duas pedrinhas que dizia serem de brilhantes, afirmando que as achara às margens de uma lagoa encantada, num local indicado pelo rei desaparecido” – o tesouro estaria em Pedra Bonita... E os súbditos sebastianistas ficariam ricos, jovens, bonitos e saudáveis quando achassem os brilhantes na margem de uma lagoa!
A notícia correu o sertão, veio gente de toda a parte escutar o “rei” João António dos Santos – era o novo “D. Sebastião” – e o pároco ficou assustado e conseguiu afastar o “rei”, que deixou em seu lugar o cunhado João Ferreira, que logo se proclamou “rei sebastiânico” e proclamou a riqueza geral, com brilhantes à farta, mas o “desencanto” só viria depois de correr muito sangue – e 53 pessoas foram sacrificadas, incluindo a mulher e a cunhada. E as pedras preciosas? Nunca foram “desencatadas’’, ao mesmo tempo que a notícia das mortes se espalhou – e um “coronel” fez justiça: morreram 87 pessoas. João Ferreira, o falso rei “D. Sebastião” fugiu para Minas Gerais, foi preso e levado para Pernambuco, mas no caminho os captores mataram-no.
É claro que estes crimes puseram termo ao “sebastianismo”. O iluminado António Conselheiro nada teve a ser com tais violências mas resistiu ao poder, acusando-o de todas as desgraças do Brasil, repeliu o exército – e morreu sob as balas em Canudos – outra tragédia indescritível!
O Padre António Vieira nunca pregou a violência, mas a lenda sebastianista perdurou.
Acrescenta o folclorista que John Luccock assinalou o vestígio da crença, em 1816, “numa pequena seita chamada sebastianismo”, conforme esclareceu no livro Notas sobre o Rio de Janeiro, descoberta que veio a ser confirmada no ano seguinte na Viagem pelo Brasil (de J,B. Spix e C.F. Von Martius, na serra do Caraça (Minas Gerais: “Estes sebastianistas – observa L.C. Cascudo - que se distinguem por sua atividade, economia e riqueza, são em maior número no Brasil, e especialmente em Minas Gerais, do que na própria mãe-pátria.
Independentemente das referências de outros estudiosos bastariam estas para levar o dicionarista do folclore a ponderar que o Sebastianismo reforçou a influência de D. João IV, não somente em Portugal mas também na unidade luso-brasileira: “E o Padre António Vieira sabia das reservas maravilhosas que essa imagem despertava no espaço popular, para que não a esquecesse e a soubesse usar.” Ninguém melhor do que Vieira, entre os três “embaixadores” que foram levar ao Rei, em Lisboa, a solidariedade da colônia, porque foi o grande pregador quem mais fez pelo fortalecimento da nação atlântica.
A participação do Padre Vieira na unidade nacional pode ser entendida no projeto jamais realizado do V Império, cuja raiz ficou documentada na histórica carta ao Bispo do Japão, D. André Fernandes. Mas esse é outro rumo que vários pesquisadores seguiram e interpretaram. Por agora, interessa-nos apenas a influência vieiriana na consolidação do Sebastianismo no Brasil, tão mal anunciado como pouco estudado. Fanáticos, oportunistas ou loucos foram os sebastianistas que propuseram o reino maravilhoso de o D. Sebastião ressuscitado – e esse nunca terá sido o Desejado que Vieira sugeriu ao Mundo, embora possa admitir-se que o eloqüente pregador viu talvez em D. João IV a esperança de um Portugal renascido.
As evocações do Sebastianismo no Brasil têm sido ilustradas por historiadores do porte de João Lúcio de Azevedo, principalmente na Evolução do Sebastianismo, e no comportamento que Euclides da Cunha apontou em Os Sertões ao qualificar ,António Conselheiro como Sebastianista convicto. Entretanto, da apologia sebastiânica de Vieira no Brasil muito ficou na alma popular do fanatismo inconseqüente que deixou como saldo a morte de alguns que esperavam a volta do Desejado.
Sem data de edição, encontramos recentemente o livrinho História do Reino Encantado da Pedra Bonita, da autoria de Fernando Alves de Carvalho (Editora Coqueiro, Recife), dando notícia de outras “histórias de cordel”, todas de inspiração popular, desde a Memória sobre a Pedra Bonita ou Reino Encantado na Comarca de Villa Bella (escrita por António Attico de Souza Leite e impressa em 1875), que teria inspirado A Pedra do Reino (outrora conhecida por “Pedra Bonita”), de Ariano Suassuna. (Com o título de Pedra Bonita, José Lins do Rego escreveu um romance sobre o mesmo tema).
Mais nos informa o autor da História do Reino Encantado da Pedra Bonita que tudo começou com uma “guerra” entre sebastianistas e “forças da ordem”, em 1887, durante a qual morreram 87 pessoas e que em lembrança do drama foi criada a Associação Cultural Pedra do Reino, que promove todos os anos, em Maio, uma cavalgada, que atrai grande multidão à igreja matriz de São José do Belmonte (Pernambuco), onde são promovidos “cantorias, aboios e desafios de violeiros”. E depois os cavaleiros seguem até à Pedra do Reino, distante cerca de 60 km – o sítio histórico é patrimônio municipal desde 1988.
Conta ainda o “cordelista” Fernando Alves de Carvalho que o mameluco João António dos Santos dizia que o Rei D. Sebastião , desaparecido em Alcácer-Kibir, em 1578 lhe havia aparecido para mostrar um tesouro escondido: “O mameluco tinha sempre às mãos duas pedrinhas que dizia serem de brilhantes, afirmando que as achara às margens de uma lagoa encantada, num local indicado pelo rei desaparecido” – o tesouro estaria em Pedra Bonita... E os súbditos sebastianistas ficariam ricos, jovens, bonitos e saudáveis quando achassem os brilhantes na margem de uma lagoa!
A notícia correu o sertão, veio gente de toda a parte escutar o “rei” João António dos Santos – era o novo “D. Sebastião” – e o pároco ficou assustado e conseguiu afastar o “rei”, que deixou em seu lugar o cunhado João Ferreira, que logo se proclamou “rei sebastiânico” e proclamou a riqueza geral, com brilhantes à farta, mas o “desencanto” só viria depois de correr muito sangue – e 53 pessoas foram sacrificadas, incluindo a mulher e a cunhada. E as pedras preciosas? Nunca foram “desencatadas’’, ao mesmo tempo que a notícia das mortes se espalhou – e um “coronel” fez justiça: morreram 87 pessoas. João Ferreira, o falso rei “D. Sebastião” fugiu para Minas Gerais, foi preso e levado para Pernambuco, mas no caminho os captores mataram-no.
É claro que estes crimes puseram termo ao “sebastianismo”. O iluminado António Conselheiro nada teve a ser com tais violências mas resistiu ao poder, acusando-o de todas as desgraças do Brasil, repeliu o exército – e morreu sob as balas em Canudos – outra tragédia indescritível!
O Padre António Vieira nunca pregou a violência, mas a lenda sebastianista perdurou.
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