terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

OS JORNAIS DE PAPEL E OS DA INTERNET

Volta a anunciar-se o fim “inevitável” do jornal, da revista e do livro “tipografados”, com o mesmo receio que alguns manifestaram quando o noticiário quotidiano chegou às emissoras de rádio e depois às de televisão. Já se dissera quase o mesmo na época em que apareceram os “jornais” cinematográficos de actualidades. Entretanto, chegou a vez das notícias que chegam instantaneamente, de toda a parte, por obra e graça da Internet.
Acabaram os jornais, revistas e livros inventados por Gutenberg? Diminuiu o número de leitores? Os jovens querem “ver” e “ouvir”, fugindo da leitura - profetizam os agoureiros, esquecidos de que o Mundo de hoje é muito diferente do período das cavernas e das descobertas portuguesas que revelaram novos mundos! Nem da corrida espacial que levou o homem à Lua se fala mais, porque os cientistas do passado sonho “vêem” os astros cada vez mais facilmente!

Entretanto, descemos à Terra, de onde nos dispersámos por cavernas, navegámos pelos rios, lagos e mares, tipografámos, voámos! O novo tempo é da comu- nicação pela Internet mas os antigos meios apenas evoluíram, com outros costumes, projectos e obras. Como envelheceu o 1984 de George Well! Em resumo, os futurólogos ficaram desempregados porque o Mundo continua vivo, por mais que nos deslumbrem os ‘sites” e “blogs”.

Temos de reconhecer que o século XX trouxe revoluções mais duradouras que a de Marx, derrubada com o Muro de Berlim. É certo que a transmissão internetiana oferece-nos a ilusão de que podemos estar em toda a parte ao mesmo tempo. Talvez seja ledo engano, como outrora se antigamente, mas diríamos que alcançamos quase a era da omnipresença, pois afirmá-lo seria quase um ateísmo, no tempo das nossas avós. Contudo, a realidade já está para além da imaginação.

Hoje, não temos mais dúvidas de que milhares de pessoas nos podem ler assim que acabamos de escrever as nossas mal desalinhavadas cartas. E esta certeza chega-nos pelo “site” e “blogs” que somente balbuciamos – e propõem-nos diálogos e intercâmbios que seriam impossíveis nos tempos gutemberguianos! Que diria Camões de tudo isto, se vivo fosse? Quantos heterônimos pessoanos criaria o nosso maior poeta do século XX se Deus não o tivesse chamado quando ele contava somente 47 anos?

Não podemos deixar de agradecer aos descobridores da Internet quando mil e um desconhecidos nos contactam para nos adiantar um esclarecimento acerca do texto sobre isto e aquilo. Este diálogo à distância com alguém desconhecido é reconfortante e compensador das ilusões desfeitas. Quando temos a satisfação de prestar qualquer serviço à Comunidade, por menor que seja, podemos admitir que “tudo vale a pena / se a alma não é pequena” - ensinou o Poeta. E este sentimento temo-lo vivido sempre que um entre possíveis milhares de pessoas que podem acompanhar-nos pela Internet nos escreve e solicita a nossa cooperação. Sabemos que isso também pode acontecer se nos lerem na Imprensa ou no Livro, mas parece que o internauta está mais inclinado à conversa do que o leitor comum. Se não houvesse outras razões, esta intenção já seria merecedora da expontaneidade que cada vez mais nos anima por intermédio do site ou do blog – reconhecimento que muito nos sensibiliza e faz insistir no diálogo aberto e franco que a Internet nos garante, porque aturar os impertinentes de múltipla espécie é perder tempo. Resta-nos a consoladora promessa dos profetas contemporâneos – os jornais, as revistas e os livros não vão, desaparecer!

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