A publicação de mais um livro de Clarisse Barata Sanches vem confirmar que a sua Poesia nasce todos os dias, de manhã, à tarde e à noite, abordando diversíssimos temas, sem omitir certas das grandes figuras goienses - e o rio Ceira, a Religião, a História, as Letras e Artes. Perde-se e acha-se no trato do folclore, incluindo festas, canções e bailados.
Reformula provérbios, rimando-os. Critica os costumes. Percorre trilhas diferentes e, entre as mais assíduas, ressaltam as do Natal - o tempo que deveria ser eterno (e consagra-lhe 10 poesias), exaltando a paz entre os homens, para conciliar o Céu e a Terra. E fala dos goienses D. Luís da Silveira (que da vila foi Senhor), de D. Gonçalo da Silveira (martirizado no reino de Monomotapa) e do poeta, historiador, ensaísta e ficcionista António Francisco Barata.
O volume vem com um prólogo de João de Castro Nunes (professor, arqueólogo e poeta), que disse: "Cantando em prosa e verso a simplicidade do seu viver quotidiano, os encantos da amizade, a placidez da vida familiar, as preferências das suas relações sociais, a natureza das suas leituras, o cântico das aves e o marulhar das águas do seu límpido e cristalino Ceira, de antiquíssima raiz linguística, Clarisse Barata Sanches faz da sua mensagem poética uma autorizada tribuna de moralização social e exaltação ambiental: encanta e educa".
O prefaciador sublinha depois a versatilidade de Clarisse, "quer se trate de criações de raiz, originais, quer de glosas e composições alheias". Por meu turno, prefiro as "criações de raiz, originais", por serem genuinamente espontâneas e de clima regional, no trato de pessoas e questões goienses. Creio, de resto, que a obra de Clarisse se projecta cada vez mais no que realmente ela vive, conforme testemunham os seus textos em prosa e verso, cujo cariz é intimamente pessoal.
E dessa natureza são igualmente as poesias religiosas (envolvendo, é claro, as de Natal), assim como as impressões acerca do folclore e dos provérbios, árvores da terra ou acordes patrióticos (é mais do que evidente o sentido do "Dia de Portugal", de Os Lusíadas, Bíblia da Pátria" e de outros textos). Receptíveis são ainda as poesias líricas, onde o amor floresce, ao lado do tom familiar ou de homenagem aos amigos.
A reunião dos capítulos temáticos poderia ser talvez mais legível e este princípio, quem sabe?, Melhor assimilado pelos jovens, afastando-os da dispersão dos assuntos - ainda não pode falar-se de Letras da Beira-Serra, na ausência de uma colecção (ou livro colectivo?) que congregue e identifique a bibliografia básica: penso no pouco que se sabe, por exemplo, da obra de D. Luís da Silveira (a não ser acompanhando o Cancioneiro Geral de Garcia Resende) e do poema Lembrança da Pátria Góes, cuja 1ª. edição é de 1899 (a 2ª. apareceu na Arganilia, (6/7 de 1997). E o D. Luís da Silveira (Senhor de Góis e Conde de Sortelha, de António Dinis, é de 1998 , enquanto Góis e seus Poetas, de Clarisse Barata Sanches, teve a 1ª. edição em 1999 e a 2ª. em 2000. Por fim, Ao longo desta ribeira, de João Nogueira Ramos, é de 2000, ano em que Arganilia reeditou a poesia de António Francisco Barata, . Se alguém conhece outros estudos que os aponte!
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